... descobre-se conhecer, ou já ter esquecido, o decoro de não ignorar que o mundo não está mais simpático, nem menos feio, por esse ser o seu carácter que se ajusta a coisas e a factos, uma peça revista com piores actores
(josé alberto oliveira, mais tarde)
a gente sai do sono como quem cresce. primeiro dormíamos e as histórias eram quase muito bonitas.se não tinhamos febre e os cobertores de papa não vinham pesar sobre o corpo, o corpo dormente não sabia de nada, depois, de repente, já é dia, o mar quase já não se ouve, diluído entre uma onda e o rumor das gentes que fila a fila passo a passo gritam um silêncio vomitam os corações da manhã- é segunda feira.eterna segunda feira. uma espécie de lassidão rói nas entranhas. à hora de ponta assemelhamo-nos a imensos vermes. cegos e nus.
aqui me nasce um corpo diferente. por aqui as cores são estas: já nem consigo adivinhar como acaba o meu sonespuma de sal e verde de olhos, mãos longas muito direitinhas postas em descanso caiem-me os olhos nas mãos caiem-me os olhos no chão nem tão pouco sei se as pérolas que deram à costa aqui durante a noite entre a minha e a tua pele entre conchas e róidos ossos são a doença ou o maravilhoso.
chiu. estamos a mudar a maré. e agora podes dizer assim sim, deixa-me regressar ao sono dormir na tua onda verde com farrapinhos de céu de algodão em rama de quente de mãe de colo de amante de palavras que arrancamos à maior tristeza de todas: amanhã está cá outro mundo. nós é que talvez sejamos os mesmos. ou talvez não. talvez.
olho para ti. dormente.quente de sono. e devagarinho desenho na boca algumas palavras: dorme querido ainda é cedo. muito cedo.
( a gente deita o coração numa almofada assim como num desenho de criança: duas manchinhas uma vermelha outra branca branca e ao voltar a ver por dentro o mundo todo já não é feio.e cheira a fresco e a gelado tuttifruti. é bom.)
1 Comentários:
... descobre-se conhecer,
ou já ter esquecido,
o decoro de não ignorar
que o mundo não está
mais simpático,
nem menos feio,
por esse ser o seu carácter
que se ajusta a coisas e a factos,
uma peça revista
com piores actores
(josé alberto oliveira, mais tarde)
a gente sai do sono como quem cresce. primeiro dormíamos e as histórias eram quase muito bonitas.se não tinhamos febre e os cobertores de papa não vinham pesar sobre o corpo, o corpo dormente não sabia de nada,
depois, de repente, já é dia,
o mar quase já não se ouve, diluído entre uma onda e o rumor
das gentes que fila a fila
passo a passo
gritam um silêncio vomitam os corações
da manhã- é segunda feira.eterna segunda feira. uma espécie de lassidão rói nas entranhas.
à hora de ponta assemelhamo-nos a imensos vermes. cegos e nus.
aqui me nasce um corpo diferente. por aqui
as cores são estas: já nem consigo adivinhar como acaba o meu sonespuma de sal
e verde de olhos,
mãos longas
muito direitinhas postas em descanso
caiem-me os olhos nas mãos caiem-me os olhos no chão
nem tão pouco sei
se as pérolas que deram à costa
aqui durante a noite
entre a minha e a tua pele
entre conchas e róidos ossos
são a doença
ou o maravilhoso.
chiu.
estamos a mudar a maré. e agora
podes dizer assim
sim, deixa-me regressar ao sono
dormir
na tua onda verde com farrapinhos
de céu
de algodão em rama
de quente de mãe
de colo de amante
de palavras que arrancamos
à maior tristeza de todas: amanhã
está cá outro mundo. nós
é que talvez sejamos os mesmos.
ou talvez não. talvez.
olho para ti. dormente.quente de sono.
e devagarinho
desenho na boca algumas palavras:
dorme querido
ainda é cedo. muito cedo.
( a gente deita o coração numa almofada
assim como num desenho de criança:
duas manchinhas
uma vermelha
outra branca
branca
e ao voltar a ver por dentro
o mundo todo
já não é feio.e cheira a fresco
e a gelado tuttifruti. é bom.)
digo eu. mas é uma história. o resto penso.
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