A Mania
A.C. Grayling diz que os gregos distinguem entre agape, o amor altruísta, desinteressado, e o amor entre camaradas de armas, storge. Ao amor entre irmãos ou ao flirt casual chamavam ludos . Ao entendimento de longo curso, pragma. E a paixão romantica era designada de mania e desprezada por ser obsessiva, amarrar o corpo ao domínio de eros, exterior à razão.
Já C. S. Lewis distinguia, na emoção amorosa, a afeição, a amizade e o amor erótico.
À agape chamaram os latinos caritas. Esta foi a palavra que Paulo usou na epístola aos Coríntios e que Fernando Pessoa se queixava de não ter. É provável que fosse o amor prático de Kant. Não sei as marcas desta agape na nossa fala de hoje. Já a caritas degradou-se. Nenhum amante reclamaria a caridade. Mesmo na sua força original, este amor não existe, clama o gene egoísta. É o mais falso dos amores.
Já ludos é simpático. Ligeiro. Um amor de verão. Que usa roupa leve, nada esconde, nem promete. Só a bailarina não quer ludos.
Storge é o amor homossexual antes de sair do armário. A caça, a pesca, a mesa do café, o futebol.
Pragma é uma chatice. Faz férias no triângulo Viena-Budapest-Praga, em Punta Cana, nos resorts do Nordeste brasileiro, inunda o litoral menos as praias do Ruy Belo, onde o sol é ameno, há vento e a memória de uma mulher que ficou em Castela.
A mania destrói, rebenta as mãos, os lábios, a testa.
A mania são as bexigas loucas. A mania são caimbras abdominais. Vómitos, náuseas, embarcar sem sair do cais.
A mania é a insónia cintilante. É a tesão que dói. A mania é a baba que rebenta o casulo.
Vem a mania e ludos empalidece.
Storge é uma máscara da mania, quando falta a coragem.
Agape é a mania de Sófocles. Dos velhos, timoratos, doentes, funcionários.
A mania é quando o ser transborda de si mesmo para o outro (Barthes).
O nome certo do amor é a mania.
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