O silêncio de deus em Gaza
Eles lutaram no Knesset. Mobilizaram os apoios em Israel, na Europa e nos Estados Unidos. Anunciaram a sua resistência. Apelaram à desobediência dos soldados. Quando tudo pareceu falhar juntaram-se na sinagoga para rezar. Aquele deus não os ouve. Vejam como são retirados um a um, os mais bravos, sem que o ar estremeça. Aliás aquele deus não dá de si há muitos anos. Quem se lembra das suas últimas promessas? Viu o seu povo ser expulso, perseguido por motivos fúteis, metido em comboios sem regresso. De um deus destes nada se pode esperar, mesmo se se trata de fiéis assim, gente boa, que vive como há dois séculos faziam os avós dos avós, em pequenas cidades do Leste da Hungria, da Ucrânia, da Rússia, das quais hoje não resta a praça, nem o nome. O deus dos palestinianos também não é deus em que se possa apostar. Onde estava ele há vinte e cinco anos? Do deus que consentiu a retirada do Líbano, o extermínio de Shatila, a derrota infame dos seis dias, só se pode esperar uma pequena vingança, a retirada unilateral do inimigo. O deus que está a dar não está nessas terras cheias de lixo e gente que sofre. Olhem para Colónia. Deus está em Colónia. Desce o rio Reno que é um rio a sério, com água, barcos, energia. Num dos barcos vem um homem de branco. Nas margens estão jovens que nunca conheceram fome, nem guerra, nem atiraram uma pedra. Rezar é bom. Os escravos sempre encontraram na oração algum alívio. Mas se querem vitórias rezem a um deus que tenha alguma possibilidade de as assegurar.
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