16 setembro 2005

Na direcção do mar

Carrilho liquidou ontem o que restava do debate político. Com um ar agastado de permanente acusação, como se o Outro fosse a incarnação do mal, contando pelos dedos as malfeitorias do adversário, o pensamento flutuante a tentar meter as buchas que a equipa eleitoral tinha preparado (estilo:"você é o candidato de uma facção do seu partido"), excessivamente activado, impaciente, zangado. Um homem horrível, distante do inefável ministro da cultura de Guterres. Num momento do debate pensei que aquela truculência talvez agradasse aos muito jovens eleitores. Mas os que estavam perto de mim estavam tristes e aterrados. Carrilho é da estirpe do Major e do autarca da Quinta das Celebridades. O drama eleitoral de Carrilho é que veio cedo demais. Lisboa ainda não é Gondomar ou o Marco. A cidade mestiça, cosmopolita, moura, tolerante, ainda tem peso eleitoral. Que haja um Partido que suporte candidatos destes ( e não só em Lisboa ) é dramático. Mas esse drama é parte da nossa vida, podemos com ele, é fácil deixá-los a falar, fechar a televisão, ler Enrique Vila-Matas e o Doctor Pasavento, por exemplo, junto ao rio, como fazia um personagem de Vailland, até que eles passam, Carrilho e os outros , na direcção do mar.

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