O caderno de notas
Numa entrevista perguntaram a Vila-Matas se era verdade que anotava num caderno os resultados dos jogos de futebol. Ele disse que não. Só os da segunda e terceira divisão. O s da primeira sabia-os de cor. Agora, no primeiro passeio que dão juntos, o doutor Pasavento, em quem Andrés desapareceu, visita Morante, internado num hospício de loucos. Almoçam junto virados para o Vesúvio, embora Morante só olhe as nuvens. Morante diz frases ambíguas ,de tal forma que o dr Pasavento não percebe se ele está de facto louco se apenas finge. Pede licença para anotar num Moleskino as réplicas de Morentes para à noite, no hotel, as poder estudar. - Que escreve você aí, numa letra tão apertada?, pergunta Morente. E nós percebemos que Andrés ainda não desapareceu porque a todo o momento lhe vêm à memória pequenas frases cuja autoria não seria fácil atribuir ao dr. Pasavento. Por exemplo, aquilo que Walter Benjamim escreveu de Walser: “podemos dizer que ao escrever se ausenta”. E sorrimos, porque a letra apertada do Moleskino de Andrés, aliás do psiquiatra Pasavento é muito semelhante aos microtextos que Morante escreve no asilo e aos microgramas que, a lápis, indecifráveis, Robert Walser gravou antes de ser internado no hospício de Waldau. E continuamos a sorrir porque sabemos que no Moleskino estão os resultados da segunda divisão, desde o início da Liga de 1987, e à mistura, nomes de jovens futebolistas promissores e de escritores estreantes e cheios de futuro.
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