02 setembro 2005

O rio Vistula


Nao percebo. As palavras que ouco. O nome das ruas. Para onde corre o transito. As noticias dos jornais. Ja tinhas nascido em 1939? Viste partir os comboios para Treblinka? Eras da classe dirigente em 1954? De que lado te sentaste em Gdansk? Ninguem parece importar-se verdadeiramente. Subo ao muro do Castelo Real para ver o Vistula. Por onde entrou o Exercito Vermelho? Ninguem pergunta quando. De que vez. Olho para o Vistula. Vejo passar os Neville Brother, o espolio da Preservation Hall Jazz Band boiando nas aguas do Vistula. Ninguem ve. Ninguem verdadeiramente se importa. O presidente ha-de vir, alugar tres andares do Marriot, distribuir casas novas. Ate a proxima bomba, ao proximo fogo, a proxima seca, a proxima cheia. A gasolina custa mais que a prata e mais cara ainda esta a agua. Nao importa. Vamos andando nas autoestradas. E vamos bebendo. O homem, o ultimo animal da evolucao, ou o primeiro da criacao, tanto faz, sempre encontrou solucao para estas coisas. Agora, num jardim igual a todos os jardins das cidades que arderam, vejo finalmente uma cena que posso entender.Uma mulher esta sentada num banco a chorar e ao lado um homem tenta reconforta-la sem sucesso.

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