11 outubro 2005

Dia dos Correios



Hoje é dia dos Correios. Aqui na Estação trazemos todos um pin alusivo ao acontecimento e tenho uma pequena surpresa para logo à tarde. Quando fecharmos o atendimento vou abrir uma garrafa de espumante e ler alto, aos outros funcionários, uma pequena história dos Correios. Por esta ordem, para conseguir aquele grau mínimo de adesão que uma acção destas pressupôe. Vou lembrar-me de Lúcia, hoje noutras tarefas em Estrasburgo. Estou, aliás a lembrar-me dela agora. A tentar aquela discursividade interna que os psicólogos cognitivos recomendam para a saúde mental em geral e a prevenção das crises de pânico em particular. Lembro-me de Lúcia, das chamadas ao fim da tarde, do silêncio de granito da Estação de Nelas, de como me sentia bem a falar com ela de trivialidades, o express-mail, a formação em Office 11, o novo sistema de avaliações. E dos silêncios antes de desligar, em que ela esperava que eu dissesse as tolas frases dos sentimentos. Ela esperava, não desligava, podia-se ouvir o granito das ruas de Nelas, as alfaias dos campos das traseiras da Estação. Eu calava-me. Não sou poeta. A poesia é uma doença a que quero fugir. Uma doença das mulheres, e dos homens que as avós enlouqueceram na infância. Não estou a ver que esta discursividade interna me poupe a angústia da tarde. Se ao menos pensar em Lúcia me apagasse de vez a imagem de Lúcia e com ela as estradas, todas as estradas que levam a Estrasburgo.

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