Mais depressa do que em nós percebe
A pandemia da gripe de 1918-19 atingiu 20% da população mundial, matou 20 a 50 milhões de pessoas (há sítios no mundo onde os mortos não se contam facilmente) sobretudo os adultos jovens e previamente saudáveis. A Lancet lembra que, quando em Março de 1918 a primeira onda de doença atingiu os campos militares de Fort Riley, Kansas, não despertou grande curiosidade. Foram necessários muitos meses e vários outros surtos para o mundo de então, saído da Grande Guerra, perceber que enfrentava uma epidemia especial.
Pouca gente percebe que o que está a acontecer em Portugal é a destruição do estado de bem estar e segurança criado após a segunda guerra mundial pelas sociais democracias vitoriosas. Vasco Pulido Valente escreveu-o com a habitual lucidez, mas ninguém parece ouvir, entretidos que estão em eleger Cavaco, Soares ou outro manipanso.
Quase ninguém dá conta que estamos a viver os anos da curva descendente do último ciclo do sistema-mundo iniciado no século XV, com a deslocação final para ocidente da civilização humana que, oito mil anos antes, se estabelecera nos rios da Mesopotâmia.
Ninguém quer perceber que o modelo de civilização que conhecemos assenta na descoberta das energias fósseis, e estas estão em rápido esgotamento.
Quando os Bárbaros entraram em Roma os filósofos romanos jogavam xadrez.
As coisas mudam mais depressa do que em nós percebe.
Eu tinha dormido duas noites em Strasbourg, na casa que Lúcia partilhava com uma amiga ausente. Na segunda-feira levantei-me e entrei na sala. Era muito cedo. Senti a presença dela antes de a ver. Estava aninhada num sofá. Tinha um casaco de pijama e as pernas juntas, dobradas, na posição em que costumam representar a pequena sereia de Andersen. Sentei-me ao lado dela, sempre em silêncio. Segurei-lhe numa mão no meio de uma grande angústia, porque estava atrasado em relação àquele acontecimento e sabia que alguém fazia aquele gesto por mim e por ela. Lúcia rodou os joelhos na minha direcção e mergulhou a cara no meu pescoço. Pus-lhe os braços em volta e ficámos com os peitos colados. Pensei que ela era uma refugiada mas que tinha um projecto de vida. E tive medo que me visse, a mim que só tinha um projecto de morte, como o seu salvador.
Pouca gente percebe que o que está a acontecer em Portugal é a destruição do estado de bem estar e segurança criado após a segunda guerra mundial pelas sociais democracias vitoriosas. Vasco Pulido Valente escreveu-o com a habitual lucidez, mas ninguém parece ouvir, entretidos que estão em eleger Cavaco, Soares ou outro manipanso.
Quase ninguém dá conta que estamos a viver os anos da curva descendente do último ciclo do sistema-mundo iniciado no século XV, com a deslocação final para ocidente da civilização humana que, oito mil anos antes, se estabelecera nos rios da Mesopotâmia.
Ninguém quer perceber que o modelo de civilização que conhecemos assenta na descoberta das energias fósseis, e estas estão em rápido esgotamento.
Quando os Bárbaros entraram em Roma os filósofos romanos jogavam xadrez.
As coisas mudam mais depressa do que em nós percebe.
Eu tinha dormido duas noites em Strasbourg, na casa que Lúcia partilhava com uma amiga ausente. Na segunda-feira levantei-me e entrei na sala. Era muito cedo. Senti a presença dela antes de a ver. Estava aninhada num sofá. Tinha um casaco de pijama e as pernas juntas, dobradas, na posição em que costumam representar a pequena sereia de Andersen. Sentei-me ao lado dela, sempre em silêncio. Segurei-lhe numa mão no meio de uma grande angústia, porque estava atrasado em relação àquele acontecimento e sabia que alguém fazia aquele gesto por mim e por ela. Lúcia rodou os joelhos na minha direcção e mergulhou a cara no meu pescoço. Pus-lhe os braços em volta e ficámos com os peitos colados. Pensei que ela era uma refugiada mas que tinha um projecto de vida. E tive medo que me visse, a mim que só tinha um projecto de morte, como o seu salvador.
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