O Cavaco back e o Soares back
A candidatura de Soares remete para a moral comum. A corrente de afectividade de Soares é a procura da identificação com os eleitores através do reconhecimento e partilha das qualidades morais que supostamente todos partilharmos. Cavaco apresenta-se sempre como o candidato da moral supererogatória, o que voltou do silêncio ungido por poderes que não estão à mercê do homem comum. Não sofre da contaminação que atingiu os políticos e o seu passado é só uma representação. Não tem idade. É magro, sem carne. Porque a carne não é triste, como pensava Mallarmé e ele não parece ter lido livro nenhum, nem disso precisar. A carne é fraca, como se pode ver em Soares que facilmente imaginamos a ser distraído dos deveres do Estado pela apreciação de um vintage. A ausência de carne distingue os homens que vieram do deserto para nos dizerem da salvação. Na curva descendente do ciclo final deste sistema-mundo, nós precisamos de homens de moral supererogatória, criaturas fora do comum, capazes de feitos excepcionais, que não se resignem e enfrentem o Dragão. Que o Dragão se perfile atrás de Cavaco, sorridente, é outra história. Precisamos de acreditar. Ou confiar em alguém que diga que acredita.
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