Três encontros
Um desses escritores cujo nome Vila-Matas tem anotado no seu caderno de capa preta é o escritor português Gonçalo M. Tavares. Vila-Matas conheceu-o quando veio a Lisboa apresentar a edição portuguesa de O Mal de Montano. A sala da Casa Fernando Pessoa estava quase vazia. Alguns jornalistas culturais, entre eles o blogger José Mário Silva, que depois de Montano começara a cultivar a letra minúscula. No meio da sala, tratando o autor de Montano por colega, estava Gonçalo M. Tavares. Vila- Matas anotou que o jovem escritor tinha publicado sete livros na sua estreia. Algum tempo depois cruzou-se com ele de novo em Paraty, a pequena cidade ao sul do Rio de Janeiro que ele confunde com o paraíso possível. No caminho de S. Paulo para Paraty, Vila-Matas registou encontros a que atribuíu grande significado. O primeiro foi o de um jovem imponente, de madeixa negra sobre a fronte e uma expressão desafiante que não era deliberada. Ao vê-lo percebia-se que a mãe devia ser húngara , o pai de Puertollano e as suas concepções do mundo fundadas em noções de utopia, catástrofe e vazio metafísico, conceitos fundamentais para entender a Europa central.
O segundo era um homem de fato às riscas e ar embriagado, assombrosamente parecido com Kopa, uma antiga glória do Real Madrid dos anos sessenta. Do bolso do casaco sobressaía um exemplar de Fuga sem fim , o livro de Joseph Roth.
O terceiro era Gonçalo M. Tavares. Chegado a Paraty hospedou-se na Estalagem da Marquesa, um alojamento com um serviço de lavandaria fiável. Gonçalo percorria as ruas de Paraty, esse empedrado à portuguesa com uma calçada larga e negra a que os locais chamam pé-de-moleque, com a facilidade de um bailarino embriagado.
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