30 novembro 2005

Enquanto anoitece


Quando na manhã do terceiro dia da sua estadia em Strasbourg o dr. L. viu Lúcia, sentiu uma dor no peito. E foi assim todo o tempo que a viu, praticamente nenhum, porque ele partiu nessa tarde, mas muito, se atendermos a que durante a viagem de regresso e mesmo depois, ao encontrar-me na esplanada do Império e me responder evasivamente às perguntas que lhe fiz, ele punha instintivamente a mão no peito e falava com esforço, num tom de voz pouco habitual. O homem estava doente. Além do mais não escrevia. Disse-me que se esforçara por o fazer, mas que tudo lhe parecia deslocado, metafórico, menos que a realidade. A realidade para ele era Lúcia, ou o entendimento que tinha feito dela, a janela de vida que entrevira. Eu já vi alguns homens assim. Para algum lado devem ter ido mas não me consigo lembrar do que lhes aconteceu. Depois do dr. L. me deixar fiquei a olhar para as pessoas que passavam e para os que estavam sentados na esplanada. Mas anoitece cedo nestes dias e, à luz dos candeeiros, não consegui ver nada do que esperava.

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