João Lobo Antunes a ajudar Portugal
O mandatário nacional de Cavaco foi ontem entrevistado por Maria João Avilez. Ele tratava-a de Maria João, ela de Professor. Anotei as principais afirmações do mandatário, confesso que com esforço, pois a táctica de tornar a campanha não declarativa, que Pacheco Pereira enunciou, estende-se ao mandatário e torna as intervenções bastante soporíferas.
Por ordem: o mandatário é movido por um concern operativo, está limpo e tem alguma dificuldade em enumerar as talhas da campanha, mas seguramente que a principal é a procura da felicidade, que a alguns recordará a questão que custou tantas cabeças e finalmente a do próprio Saint Just, mas que nele se confunde com o direito à segurança. O mandatário é procurado por muitas pessoas que lhe mandam recados. Mas o pulsar popular, melhor que todas as sondagens, é-lhe dado pelo contacto na intimidade da consulta (mais de cem por semana, disse ele a uma Maria João preparada para estas revelações). O que o mandatário aprecia no candidato é sobretudo … (Pausa enfática para pedir desculpa por ir usar uma palavra que detesta e não faz parte do seu vocabulário. Depois de devidamente autorizado pela Maria João, e pousando a palavra com pinças em cima da mesa)… a postura. O mandatário aprecia em Cavaco as mesmas qualidades que vê em Sócrates: coragem, sensibilidade e, quando conseguirem soltar aquilo que genuinamente possuem, afecto. No meio houve uma surpreendente metáfora futebolística que fez com que a audiência feminina com quem na ocasião partilhava a sala parasse as conversas e declarasse que nunca esperaria isto dele e que a convivência cavaquista o estava a prejudicar francamente. E acabou relatando o encontro em que o candidato o convidou para o cargo e lhe disse: eu estava tão bem, tão tranquilo. Mas é a minha obrigação.
Relendo estas notas, o que mais me surpreende é a confiança que um homem de ciência deposita na sua amostra. Cem pessoas por semana. Como a consulta é seguramente de qualidade, demora no mínimo meia hora: motivo da consulta, história da doença actual, antecedentes pessoais e familiares, exame objectivo completo, discussão diagnóstica, exames complementares de diagnóstico, diagnóstico final, proposta terapêutica, marcação de seguimento e registo das convicções cavaquistas do paciente. Cinquenta horas semanais. Dez horas por dia, sem breakings, nem interrupções telefónicas, tudo isto entre os tempos de bloco operatório. Uma rotina de neurociências apenas interrompida pela esfusiante demonstração da adesão ao candidato presidencial. Entre a cefaleia, a parestesia, a diplopia, a parésia, a ambliopia e a convulsão, uma palavra de apreço pelo combate cívico, um recado para Cavaco.
- Diga lá ao professor… E ele abre a porta do consultório, empurra docemente para o corredor e sorri. Ele, como a Vanessa das crónicas da Ana Sá Lopes no jornal do sôr zé manel furnandes, aprecia a postura do homem. A rigidez, a angulação e a secura. Um algarvio que veio do nada. Subiu a pulso. E quando estava tão bem, tão tranquilo, o dever chamou-o. Para ajudar Portugal.
Por ordem: o mandatário é movido por um concern operativo, está limpo e tem alguma dificuldade em enumerar as talhas da campanha, mas seguramente que a principal é a procura da felicidade, que a alguns recordará a questão que custou tantas cabeças e finalmente a do próprio Saint Just, mas que nele se confunde com o direito à segurança. O mandatário é procurado por muitas pessoas que lhe mandam recados. Mas o pulsar popular, melhor que todas as sondagens, é-lhe dado pelo contacto na intimidade da consulta (mais de cem por semana, disse ele a uma Maria João preparada para estas revelações). O que o mandatário aprecia no candidato é sobretudo … (Pausa enfática para pedir desculpa por ir usar uma palavra que detesta e não faz parte do seu vocabulário. Depois de devidamente autorizado pela Maria João, e pousando a palavra com pinças em cima da mesa)… a postura. O mandatário aprecia em Cavaco as mesmas qualidades que vê em Sócrates: coragem, sensibilidade e, quando conseguirem soltar aquilo que genuinamente possuem, afecto. No meio houve uma surpreendente metáfora futebolística que fez com que a audiência feminina com quem na ocasião partilhava a sala parasse as conversas e declarasse que nunca esperaria isto dele e que a convivência cavaquista o estava a prejudicar francamente. E acabou relatando o encontro em que o candidato o convidou para o cargo e lhe disse: eu estava tão bem, tão tranquilo. Mas é a minha obrigação.
Relendo estas notas, o que mais me surpreende é a confiança que um homem de ciência deposita na sua amostra. Cem pessoas por semana. Como a consulta é seguramente de qualidade, demora no mínimo meia hora: motivo da consulta, história da doença actual, antecedentes pessoais e familiares, exame objectivo completo, discussão diagnóstica, exames complementares de diagnóstico, diagnóstico final, proposta terapêutica, marcação de seguimento e registo das convicções cavaquistas do paciente. Cinquenta horas semanais. Dez horas por dia, sem breakings, nem interrupções telefónicas, tudo isto entre os tempos de bloco operatório. Uma rotina de neurociências apenas interrompida pela esfusiante demonstração da adesão ao candidato presidencial. Entre a cefaleia, a parestesia, a diplopia, a parésia, a ambliopia e a convulsão, uma palavra de apreço pelo combate cívico, um recado para Cavaco.
- Diga lá ao professor… E ele abre a porta do consultório, empurra docemente para o corredor e sorri. Ele, como a Vanessa das crónicas da Ana Sá Lopes no jornal do sôr zé manel furnandes, aprecia a postura do homem. A rigidez, a angulação e a secura. Um algarvio que veio do nada. Subiu a pulso. E quando estava tão bem, tão tranquilo, o dever chamou-o. Para ajudar Portugal.
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