23 novembro 2005

Quarta feira




A Joana morreu no Outono de 2000. No Verão de 2002, quando pelas regras do luto a devia começar a esquecer, tive pela primeira vez saudades dela. Às quartas feiras ela fazia tratamentos no hospital de dia. Ia buscá-la ao fim da tarde. Ela devia ter náuseas e pouca vontade de falar. O café da avenida encerrava às quartas-feiras. Se não encerrasse tomávamos chá. Havia de lhe mostrar os livros do Duarte Belo com as paisagens da serra no degelo e estátuas cujas feições se apagam silenciosamente. Mas o café esteve sempre fechado, todas as quartas feiras que durou o tratamento. E era assim que continuava, dois anos depois. Via através dos vidros as cadeiras empilhadas para a limpeza do chão ser mais fácil e, contra todas as probabilidades, comecei a sofrer pela sua morte.

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