02 janeiro 2006

Estefânia



Nuno Júdice foi um dos meus poetas preferidos até ao dia em que, talvez injustamente, se me meteu na cabeça que começara a escrever para uma comenda de Sampaio (o que, vejo agora e tarde, será sempre menos sinistro que escrever para uma comenda de Cavaco). Num livro dos anos noventa, encontrei um poema chamado O Nome de Estefânia no Castelo de Hohenzollern. Nuno Júdice visita o castelo. Ouve nomes sem rosto, datas, efemérides. Está cansado, sobretudo porque lhe falam numa língua de que nada percebe. “Foi então que o nome de Estefânia, rainha de Portugal, lhe apareceu inscrito numa parede da capela. O mais insignificante da visita; uma simples notação de arquivo de família”. Acabava assim:
“(...)Ali vivera aquela que tão pouco
viveu, dali saiu para se converter em pouco mais
do que aquele nome que só uma praça de árvores
melancólicas evoca. Quem foi - ela e o rei que
tanto a amou- é assunto para poucos: eruditos
amantes de papéis e arquivos; ou poetas, cujos
versos se alimentam de acasos, coincidências, nadas…”
Foi assim que Estefânia e o rei D. Pedro V entraram na minha vida.

(Nuno Júdice, Um canto na espessura do tempo, D. Quixote, 1992)

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