08 março 2006

A noite



A noite
nunca existiu.
Ou é sempre noite.
Em metade dos planetas,
pelo menos.
Do sistema solar,
pelo menos.
E se não percebes isso
és provinciano,
como diz o filósofo
Desidério Murcho,
ou é a tua mundivisão
que é provinciana.

Churchill, Pessoa, Stuart Mill,
Cristo, Maomé, Gandhi,
todos os que não assistiram à
revelação do big bang
tinham uma visão do mundo
provinciana.
Os sábios e os heróis da antiguidade
nascidos antes do Cristianismo
estão no Purgatório de Dante.
Há gravuras que provam.
E todos os nossos sábios e heróis,
que escreveram ou lutaram
antes de se saber que
somos o pó de uma galáxia
entre milhões de galáxias,
o pó do pó,
o nada no todo
que é o Nada de um Todo
ainda maior,
tiveram como tu,
ainda hoje,
uma visão do mundo,
por assim dizer,
provinciana.

Eu que leio atentamente o filósofo,
e desde Sagan
ouço o eco do big bang,
e sei que em milhões de planetas
como este,
gente como eu
vivendo em mansardas
chama Stetson! julgando reconhecer
o dono da Tabacaria,
como é que hei-de chamar à
minha visão do mundo?

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