O lado errado
No Público de ontem, Jorge Varanda, reconhecido esperto em Qualidade, e pessoa que muito admiro, escreve sobre A insustentável gravidade das cirurgias do lado errado. Varanda lembra o Protocolo Universal para prevenir a cirurgia do lado errado, do procedimento errado e da pessoa errada, traduzido e divulgado a partir dos textos da Joint Commission International, no tempo em que alguns dos antigos Hospitais SA se envolveram num processo de Acreditação. O protocolo pressupõe basicamente os seguintes procedimentos:
Verificação pré operatória,
Marcação, em geral com tinta indelével, do local do corpo a operar, com a colaboração do doente.
Verificação final mesmo antes da operação começar, na presença dos membros da equipa operatória.
No meu caso, lamentavelmente, o protocolo não resultou. Relembro: A verificação pré operatória fez-se. Mas não havia negatoscópio na enfermaria e, lida contra a vidraça da janela, a TAC foi colocada ao contrário. A tinta não era indelével. O marcador indelével estava esgotado e foi substituído por um outro, que não resistiu à tonsura, ao banho da manhã operatória, à desinfecção com os produtos de antissepsia. Na verificação final não estavam presentes os elementos da verificação pré operatória. O anestesista tinha sido substituído, o cirurgião estava a lavar-se e o doente tinha feito midazolam como parte da medicação pré anestésica e estava sedado, amnésico e relaxado. Tiraram-me assim o coração e não a bola de sangue que estava do outro lado. O protocolo estava correcto. O protocolo que estabelece que deve haver negatoscópios nas enfermarias, tinta indelével, e avaliação pré operatória pela mesma equipa escalada para a cirurgia é que não foi respeitado. Ou talvez eu fosse o doente errado.
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