19 abril 2006

O massacre de 1506: hoje no Rossio



Imaginar os mortos e lembrá-los. Os cristãos-novos. Expulsos da Espanha católica. Gente sem pátria e sem defesa, vítimas fáceis em tempo de seca, doença, abandono da cidade pelos mais abastados. Lembrar o medo, a casa invadida, a violência e a excitação dos violentos. Imaginar o sofrimento das facas, das lanças, dos paus, das chamas. E lembrar os frades beneditinos, a excitação das multidões, uma mulher barbuda que se indigna, os gritos dos homens sem trabalho e sem alcoól , o saque, as mãos para sempre ensanguentadas. E saber que não somos melhores que eles, estes inocentes e estes verdugos embrutecidos pela miséria e por padres ignorantes. Que há pouco tempo, na Europa, gente como nós, matava e morria, torturava e era torturada, no meio de uma crueldade planificada e tecnologicamente avançada. Lembrar tudo, e um deles em particular, um homem, uma mulher ou uma criança em particular.

(Hoje, uma vela no Rossio; no Largo de S. Domingos às 19 H)

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