Manhã de domingo
Há cem anos que Rilke escreveu os Cadernos de Malte e há alguns que ela entra de manhã no hospital de adultos onde trabalha. Os suficientes para saber que uma coisa não muda. Mudam os materiais, o nome dos serviços, os directores, o sistema de saúde a tecnologia e a esperança de vida. Mas todas as manhãs está lá o cheiro intensíssimo da doença, da respiração humana, das secreções apócrinas desviadas do serviço do sexo e apenas dedicadas à impúdica exibição da decadência. Está lá o cheiro amarelo e almiscarado da urina e das escorrencias uretrais. Está o hálito do sono asfixiado.
Os enfermeiros e os auxiliares já mudam lençóis e sondas e, mais tarde, as equipas de limpeza esfregam o chão com produtos esverdeados, espalham essência de limão e eucalipto. Algum familiar mais compassivo aplicará cremes e colónias . Mas quando ela entra de madrugada no hospital de adultos sabe que debaixo de tudo, está o cheiro que se desprende, lento, dos corpos quando morrem.
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