A mulher do Rodeiro
Na aldeia de Rodeiro a mulher barbuda olha-me do alto. Nega-me a broa apesar de cozida no forno comunitário. Comunitário é uma grande palavra para meia dúzia de mulheres, enlutadas a rigor, e um velho surdo, reparando o colmo de um telhado. A mulher barbada tem as pernas enroladas por um calção de borrega, seguro por baraço. Usa-o desde os seis anos, há mais de trinta, pois. Mesmo no Verão, na branda. Passou a noite a ouvir o grito lancinante das raposas com cio. Vê-se-lhe nos olhos. Ouve-se-lhe na voz, lenta mas desafiante, como a voz das mulheres da cidade, solta pela fluoxitina. Se eu insistir ela vende-me o calção. A manta de onde este saiu há-de dar outro.
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