14 junho 2006

Na Feira do Livro



Gosto dos pavilhões da Relógio D’Água, da Cotovia, da Teorema. Estão lá os livros que valem a pena ser lidos: Sebald, Vila-Matas, Borges. Um dos melhores livros de sempre, Armas, Germes e Aço, de Jared Diamond, não vendeu sequer a primeira edição e envelhece à dureza da exposição. No pavilhão das pequenas editoras já não está a e etc. Gosto da Cavalo de Ferro. Mas desde o Manuscrito encontrado em Saragoça que não consigo comprar nada na Cavalo de Ferro. Lágrima, A Tua Cara não me é Estranha, Mútuo Consentimento, de Hélder Moura Pereira estão em saldo por 3 € na Assírio. Na ASA não põem em destaque as velhas edições de Lodge. À D. Quixote nunca mais chega O Homem sem Qualidades e não é dado nenhum destaque a um livro que poderia salvar o mundo: a Breve História do Progresso.
Anoiteceu e a Feira está deserta. Num dos pavilhões, à luz que resta, uma escritora escolhe um livro para um jovem leitor. - O que é que tu lês? - pergunta ela. O pai diz que ele já lê seguido, os Cinco, por exemplo. E a escritora parece hesitar. Apercebe-se de que nunca escreveu um livro que mereça ser lido assim, seguido, um livro que se possa oferecer a um menino pendurado no balcão, tão crente no mistério da literatura. Apetece-me dizer-lhe que é mentira. Que conheço quem a leu, com o fervor e o apetite com que se liam os Cinco. Mas foi há tanto tempo. Quem sou eu para consolar um escritor que duvida, no frio de uma Feira que se extingue.

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