Revisionismo
Alguma certeza deve existir.
se não de amar, ao menos de não amar.
(Dylan Thomas ouvido por Antonioni, segundo Vila-Matas)
Ana, fui ver.
É verdade, sou um revisionista.
Ah, mas não tanto, não completamente.
Nos quartos estreitos/ as mulheres tinham o corpo incendiado/ e os homens dormiam/ o sono pesado de um álcool pouco amável.
(Ainda têm, ainda dormem)
Ana Paula Inácio de quem dizem ter nascido no Porto em 1966 e viver actualmente nos Açores, publicou As vinhas de meu pai (Quasi) e Vago Pressentimento Azul Por Cima (Ilhas). Em quase todos os seus textos perpassa a dúvida sobre a utilidade das palavras: "o que poderás dizer que não se dissolva em pó?"
(Perpassa ainda)
Baudelaire olhava fundo nos olhos das mulheres e, como os filhos do celeste império, via neles as horas. Por ter aprendido mal ou por ser sempre verão nos teus olhos, passo o outono em grande confusão horária.
(O Outono, a Primavera e o Inverno.)
Fiquei para trás descurando as guardas. Demorei-me nos orégãos em flor, entre as pedras do muro. Voltava-me julgando ouvir o meu nome- e eras sempre tu quem me chamava. Ou o tumulto das águas, a escola quase deserta, os miúdos entregues ao sacristão. Por motivos fúteis me demorava. Por motivos fúteis me apanharam.
(Por motivos fúteis)
Outros que escrevam sobre o sofrimento do mundo. Eu simplesmente me comovo com o teu púbis empinado.
(Comovo-me sempre)
É tão novo e não sabe que traz às costas o gulag, o muro de berlim e a tinta correctora que apagou o trotsky da fotografia.
(O rapaz das juventudes comunistas. Ainda não sabe)
A Cristina não gostou que se pudesse pôr ao mesmo ní¬vel o torturador e a ví¬tima, o delator e o denunciado. E considera que esse relativismo, que faz desaparecer o mal, é revoltante.
- Eu sei sempre de que lado me devo colocar - disse ela.
Stevenson, que escreveu antes da grande eclosão do mal contemporâneo, considerava a crueldade como o pecado capital. A crueldade faz com que os mártires se confundam com os que acendem as fogueiras e os réprobos com os seus demónios. O cárcere da crueldade é infinito.
Um sábio disse que devemos combater a crueldade para não nos tornarmos cruéis. Mas como não usamos as armas dos cruéis seremos vencidos.
(Revi: devemos usar as armas dos cruéis. Para não ser vencidos)
se não de amar, ao menos de não amar.
(Dylan Thomas ouvido por Antonioni, segundo Vila-Matas)
Ana, fui ver.
É verdade, sou um revisionista.
Ah, mas não tanto, não completamente.
Nos quartos estreitos/ as mulheres tinham o corpo incendiado/ e os homens dormiam/ o sono pesado de um álcool pouco amável.
(Ainda têm, ainda dormem)
Ana Paula Inácio de quem dizem ter nascido no Porto em 1966 e viver actualmente nos Açores, publicou As vinhas de meu pai (Quasi) e Vago Pressentimento Azul Por Cima (Ilhas). Em quase todos os seus textos perpassa a dúvida sobre a utilidade das palavras: "o que poderás dizer que não se dissolva em pó?"
(Perpassa ainda)
Baudelaire olhava fundo nos olhos das mulheres e, como os filhos do celeste império, via neles as horas. Por ter aprendido mal ou por ser sempre verão nos teus olhos, passo o outono em grande confusão horária.
(O Outono, a Primavera e o Inverno.)
Fiquei para trás descurando as guardas. Demorei-me nos orégãos em flor, entre as pedras do muro. Voltava-me julgando ouvir o meu nome- e eras sempre tu quem me chamava. Ou o tumulto das águas, a escola quase deserta, os miúdos entregues ao sacristão. Por motivos fúteis me demorava. Por motivos fúteis me apanharam.
(Por motivos fúteis)
Outros que escrevam sobre o sofrimento do mundo. Eu simplesmente me comovo com o teu púbis empinado.
(Comovo-me sempre)
É tão novo e não sabe que traz às costas o gulag, o muro de berlim e a tinta correctora que apagou o trotsky da fotografia.
(O rapaz das juventudes comunistas. Ainda não sabe)
A Cristina não gostou que se pudesse pôr ao mesmo ní¬vel o torturador e a ví¬tima, o delator e o denunciado. E considera que esse relativismo, que faz desaparecer o mal, é revoltante.
- Eu sei sempre de que lado me devo colocar - disse ela.
Stevenson, que escreveu antes da grande eclosão do mal contemporâneo, considerava a crueldade como o pecado capital. A crueldade faz com que os mártires se confundam com os que acendem as fogueiras e os réprobos com os seus demónios. O cárcere da crueldade é infinito.
Um sábio disse que devemos combater a crueldade para não nos tornarmos cruéis. Mas como não usamos as armas dos cruéis seremos vencidos.
(Revi: devemos usar as armas dos cruéis. Para não ser vencidos)
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