22 setembro 2006

Beijos manchegos (Volver)




Elas encostam a face e dão três beijos sonoros, prolongados. Nas aldeias da Mancha e nos bairros dos subúrbios madrilenos. Parecem de todos os melhores. Qual french kiss, qual beijinhos. O french kiss, uma meladice silenciosa, é uma intimidade desnecessária. O facto de não ter tradução decente diz tudo sobre a sua artificialidade. Nasceu para o cinema quando a sexualidade genital era interdita. O verdadeiro beijo francês consiste aliás na sequência de três beijos, dois laterais e um frontal rápido, todos acompanhados de estalido palatal. Nada que se compare ao espalhafato manchego, peito levantado e anca larga, face encostada à face e os lábios esticados para o pavilhão poder receber a sequencia de trinados. O beijo manchego assinala a cumplicidade das mulheres, uma conquista evolutiva. Visto deste lado remete para a protecção da infância, o banho de tina que davam a Mastroiani nos filmes de Felini, o reduto caloroso que as mulheres reservam aos que merecem. Um beijo que também quer dizer: nós somos as que vamos em frente, nenhuma contrariedade é superior á nossa determinação.

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