O bugio à noite
Robert Mapplethorpe
Ao fim de um dia como este, um primata a que os locais chamam bugio, inicia o seu grito. Não o vejo, mas sei como ele é, um macho melancólico de pelo negro, cabeça larga enterrada nos ombros, barbas longas. Parece incrivelmente próximo. O ronco é de zanga e de tristeza, ampliado por um osso anterior do pescoço e pela outra caixa de ressonância que são as copas das árvores mais altas. Interminável, sem a pausa da inspiração, nem o decaimento da expiração. Um grito gutural, conspícuo. Um grito que me envergonha por ele, assim tão irremediavelmente exposto, embora invisível. O grito territorial de um macho infeliz, quando o dia acaba e vem a noite do Inverno subtropical.
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