27 setembro 2006

Uma Ópera responsável





A directora da Deutsche Oper, Kirsten Arms, decidiu cancelar a ópera Idomeneo, de Mozart, baseada no libreto de Giambattista Varesco, estreada a 28 de Janeiro de 1781. A obra representa o rei de Creta em luta contra as religiões e, na cena final, o rei exibe as cabeças decapitadas de Poseidon, Cristo, Buda e Maomé. A senhora que dirige a Ópera de Berlin, avisada pelo ministro do Interior e pelo chefe da polícia dos perigos decorrentes de tal provocação, decidiu substituir Idomeneo por As bodas de Fígaro.
Este episódio mostra que os intelectuais do Ocidente têm nos directores das Óperas a sua vanguarda. Atentos aos chefes da polícia e às sensibilidades religiosas eles sabem o que é verdadeiramente importante. Ontem foi o director da Opera de Paris a castigar Peter Handke pelas suas opiniões pró- Milosevic. Hoje é a senhora Kirsten a mostrar que aprendeu os conselhos de bom senso que os nossos políticos, comentadores, jornalistas não se cansaram de dar a propósito dos cartoons. Não se deve minar o diálogo intercultural com estas exibições de irreverência libertária dos pançudos europeus. A cabeça de Cristo ainda vá lá. A cabeça de Buda não é problema. Os budistas assistem resignados à destruição a dinamite do seu ícone. Poseidon? Quem é esse? Agora Maomé, o do toucinho, sabemos todos. Não irritem os homens que os queremos calmos para o diálogo das civilizações. O Fígaro vale bem dez Idomeneos, só um excitado é que não percebe isto.

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