A Queda do Boeing 737 em Mato Grosso
Death of Chatterton, Wallis
Às dezassete horas o Boeing 737-800 da GOL, procedente de Manaus, voava no céu de Mato Grosso, a 11.000 metros de altitude, quando colidiu com um pequeno jacto e se precipitou, na vertical, em direcção ao solo, a selva tropical do Amazonas. À velocidade que levava, a sua queda terá durado sete minutos, talvez um pouco mais.
Sete minutos.
Um minuto para perceber o que acontecera, apertar, desapertar os cintos.
Um minuto para se habituar à pressão horrível nos ouvidos, à vertigem da queda, à balbúrdia dos órgãos revolvidos, ao choro das crianças, aos gritos. O passageiro do lado com a cara colada à janela parecendo rezar, um casal que se abraça, gente que se procura e cai nos corredores. A incredulidade, a revolta e a resignação, tudo depressa e misturado. Depois a escuridão, depois as crianças calam-se como se se cansassem. Depois o silêncio.
Cinco minutos para ver a vida passar, percebendo que será a última vez que aquelas imagens desfilarão na sua cabeça atormentada. Uma ideia absurda: irá com ele a face que se formar no momento da explosão. Quer então parar o desfile absurdo que o cérebro teima em convocar. A quantidade de coisas que deixou desarrumadas. De quem não se despediu convenientemente? O que ficou para dizer? Tantas dívidas. Não pôs na reciclagem os cadernos pretos. Pensa na floresta verde que o vai receber. As copas mais altas são as da árvore a que os índios chamaram piuva.
Dois minutos. Os corpos despejam-se para que os fragmentos se apresentem limpos aos carcarás e urubus. Os casais largam as mãos. A morte é uma coisa que diz respeito a cada um. Penso em ti e na piuva. Em ti. E na piuva. Em ti e na piuva. Em ti, em ti. E na piuva.
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