O actor Jude Law e as atávias
Os homens escolhem as mulheres pelo que elas são. Acreditam no seu valor facial. Um homem nunca submeteria uma mulher a qualquer prova. É demasiado rebuscado, demora tempo. Os homens não têm tempo.
As mulheres dos anos pós-pílula, escolhem os homens pelo que parecem. E depois de os escolherem, por uma inércia compreensível, querem-nos a longo prazo, como as atávias faziam aos caçadores. Mesmo quando são elas que caçam e não precisam de nenhum sustento.
O que é estranho, e contraria os que pensam que a evolução nos dotou com mecanismos perfeitos de reconhecimento, é que os mecanismos biológicos de escolha são inadequados. Eu vejo nos homens, na cara e nos modos dos homens, o verme que são. Porque, como diria Philip Roth, eu já fui esse verme? Não interessa. Sou capaz de ver, num ponto de vista feminino, se um homem é de confiança. E fico espantado como, mesmo quando eles põem todas as cartas na mesa, e se comportam segundo estereótipos de dom juanismo, elas se mostram agradadas. Ontem estava a ver o anúncio de uma comédia com o actor Jude Law. Aqui está um homem interessante em quem uma mulher não pode confiar, pensei. Até ver o ar das mulheres que estavam perto. Elas estavam compreensivelmente radiosas. Mas parecia-me mais do que isso. E quando perguntei à que estava ao meu lado se aquele homem lhe parecia confiável, ela confirmou que sim, sem dúvida. Como podia não ser uma perita perguntei a outra. E por aí adiante, um inquérito que foi possível por se estar ainda naquela fase de pipocas em que um certo ruído é tolerável. Todas achavam o actor Jude Law, no papel de um sedutor meio aparvalhado, um homem de confiança.
Não perguntei aos homens. Julgo saber o que os homens pensam. O ciúme masculino é um veneno genético que pode não se exprimir toda uma vida, ou causar vítimas insuspeitas. Um lixo putrefacto, um garrote. Os homens recebem suaves emanações de um produto colateral que lhes ensina a ver, na cara e nos modos dos parceiros, de onde virá o rival.
Também os homens são cegos para as mulheres. Os homens olham para as mulheres como Joseph Brodski disse que os norte-americanos olhavam para a realidade. Como se não houvesse história, “como se ambos carecessem de passado”. As mulheres lindas são sempre boas. E se por acaso lhes fazem mal eles não acreditam. As mulheres têm sempre uma segunda oportunidade, porque os homens não sabem ler o fundo das mulheres e são desesperadamente optimistas quanto à sua natureza.
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