Vital e o governo do interesse geral
Um dia destes, a propósito de Borat, alguém dizia que ficava chateado quando o objecto de humor são os mais fracos. Ontem, Vital Moreira professor universitário, assina no Público (sem link disponível) um artigo de opinião contra a aristocracia operária. Aristocracia operária é um conceito da “teoria marxista tradicional”, explica ele, que se aplica aos sectores da classe operária que, “relativamente privilegiadas em relação aos demais trabalhadores”, não acompanham as suas lutas. A aristocracia operária actual é, para Vital, composta pelos que, no sector público (professores, enfermeiros, funcionários públicos, Metropolitano, CTT, etc) de alguma forma manifestaram oposição à política do governo ou se empenharam na contestação das medidas que alteravam o seu contrato de trabalho. Vital dá exemplos dos privilégios de que goza esta aristocracia: os trabalhadores do Metro de Lisboa têm direito a 36 dias de férias, subsídio de doença superior à remuneração pelo trabalho efectivo, sem falar noutras regalias que Vital ficou a conhecer depois da entrevista que o presidente do conselho de administração da empresa deu ao Expresso de há duas semanas. Vital pede mais sangue ao governo. Afastando-se da “teoria marxista tradicional” Vital vê agora no executivo de Sócrates o representante “ do interesse geral” o sindicato dos contribuintes, dos cidadãos comuns. E incita-o a ir mais longe “ na eliminação dos privilégios”.
Eu não fui ver o Borat e não perco tempo com os ajudantes governamentais que legitimam a destruição do estado social, utilizando conceitos marxistas. Não conheço a aristocracia operária. Mas se existe, sempre deve ser melhor que os broeiros que as máquinas partidárias gostam de arregimentar quando têm a maçada de se deslocar ao país real.
Em 1880 um « marxista tradicional » chamado Paul Lafargue, que por sinal visitara Portugal, exortou os trabalhadores « à ne travailler que trois heures par jour, à fainéanter et bombancer le reste de la journée et de la nuit ». Para ele, o direito à preguiça era mais importante que “os direitos humanos, obra dos advogados burgueses nos seus escritórios.” Os seus ensinamentos foram ignorados. Ironicamente, os burgueses pedem hojem aos operários, aristocratas ou não, que sigam a última lição de Paul Lafargue. A 26 de novembro de 1911 escreveu ele : Sain de corps et d'esprit, je me tue avant que l'impitoyable vieillesse qui m'enlève un à un les plaisirs et les joies de l'existence et qui me dépouille de mes forces physiques et intellectuelles ne paralyse mon énergie, ne brise ma volonté et ne fasse de moi une charge à moi et aux autres.
Esta solução final para a saúde e segurança social é infelizmente seguida por poucos. Enquanto se espera, deixemos o governo do interesse comum acabar com “os regimes privativos especiais”. Desde que, claro, não se meta com os professores universitários.
Eu não fui ver o Borat e não perco tempo com os ajudantes governamentais que legitimam a destruição do estado social, utilizando conceitos marxistas. Não conheço a aristocracia operária. Mas se existe, sempre deve ser melhor que os broeiros que as máquinas partidárias gostam de arregimentar quando têm a maçada de se deslocar ao país real.
Em 1880 um « marxista tradicional » chamado Paul Lafargue, que por sinal visitara Portugal, exortou os trabalhadores « à ne travailler que trois heures par jour, à fainéanter et bombancer le reste de la journée et de la nuit ». Para ele, o direito à preguiça era mais importante que “os direitos humanos, obra dos advogados burgueses nos seus escritórios.” Os seus ensinamentos foram ignorados. Ironicamente, os burgueses pedem hojem aos operários, aristocratas ou não, que sigam a última lição de Paul Lafargue. A 26 de novembro de 1911 escreveu ele : Sain de corps et d'esprit, je me tue avant que l'impitoyable vieillesse qui m'enlève un à un les plaisirs et les joies de l'existence et qui me dépouille de mes forces physiques et intellectuelles ne paralyse mon énergie, ne brise ma volonté et ne fasse de moi une charge à moi et aux autres.
Esta solução final para a saúde e segurança social é infelizmente seguida por poucos. Enquanto se espera, deixemos o governo do interesse comum acabar com “os regimes privativos especiais”. Desde que, claro, não se meta com os professores universitários.
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