THE KOLN CONCERT
Em 75 quantos de nós ouviam o concerto de Colónia? E sobretudo quantos de nós o ouviam em Viseu? Meia dúzia se tanto. Conheço-os a todos. Alguns já não ouvem nada. Ou porque morreram asfixiados pelo granito, ou porque ensurdeceram com a vida, ou porque tremem à beira de precipício mais próximo, ou porque deixaram de querer querer o que quer que queiram.
Certo é que estavam ali e circulavam e viam o que eu via e nada disso existiu. Em 75 o mundo era tão distante de si mesmo que pensávamos não ser possível sair na próxima paragem sem empurrar ninguém. Estendíamos camisas de caxemira no fundo do quintal e não falhávamos a homilia do fim do regime. Em 75 tropeçávamos e raramente caímos ou quando o fazíamos só nos daríamos conta disso muitos anos depois. Alguns mais novos jaziam nos cobertores maternos e iriam depois ser os pequenos hitlers das letras e das tretas, alcatifados até á exaustão e ao vómito, até não poderem senão acariciar a franja clara e macia dos filhos que não tiveram, até ao elogio ténue de um olhar oblíquo de criança fora de tempo. Netos de si mesmos, netos do nada, netos da cidade neutra e estéril, netos da lembrança de uma nuvem irritada e passageira, netos dos netos que nunca verão. Em 75 pensávamos que ninguém tinha que pensar mais e tudo escapou como o tempo que não restava para ninguém.
(de Rosaarosa)
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