28 maio 2007

pensando na família F


blue

kant considerava um escândalo não ter sido produzida até então nenhuma prova da existência do mundo. heidegger ripostou, dois séculos depois, que escândalo era alguma vez ter-se procurado tal prova.


durante muito tempo sofri de incapacidade metonímica. os meus raros sonhos eram uma reprodução da realidade. vivia no pesadelo da mimese contínua.
sabemos que há mimese que não é poesia: acontece por necessidade. os mundos dos sonhos não eram os possíveis. o mundo é que era impossível e essa impossibilidade estendia-se aos sonhos. talvez os sonhos fossem uma espécie de verificação empírica do mundo. o mundo era uma referência vazia que precisava de ser agitado para que ganhasse consistência. o mundo como um não-lugar. na verdade esta era uma experiência de morte: só desligando-nos do mundo se poderia vir a sentir o mundo.

em viseu a olhar para a calçada, a ponta da sombrinha antiga levemente entortada, uma sombrinha melancólica usada em tempos revolucionários. a memória de patti smith anoréxica e com buço a gemer soletrando o gloria. levanto repetidamente o rosto e vejo aparecer uma cara séria eternamente vestida de castanho, sorrindo, a dizer que sabia que me ia encontrar ali. a ponta metálica do guarda chuva esquadrinha meticulosa e oblíqua a calçada quase portuguesa. chuvisca e o dia parece conter todas as possibilidades. não podemos saber mas daqui em diante tudo à volta irá desaparecer.
análise e êpochè.

sent by rosaarosa

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