14 junho 2007

Everyman



As mulheres que eu conheço não gostam de Philip Roth. Quando lhe quis emprestar O Animal Moribundo, ela disse: - Não suporto velhos que se babam em frente das mulheres jovens. Qualquer coisa assim. Ela não diz mulheres jovens e fala com mais elegância e crueldade. Como não me estava a babar em frente dela, presumi que se tratava de uma opinião literária. É difícil, entre as mulheres que eu conheço, encontrar uma que tenha opiniões literárias. Elas confundem geralmente Proust com o narrador proustiano, o que não seria grave, se não confundissem o narrador proustiano com o último namorado. Talvez ela leia Everyman (Todo-o-Mundo), o último livro de Philip Roth. O personagem, um judeu de Nova Iorque, de 71 anos, morre, no início, no fim, e ao longo das 180 pgs. do livro. Algumas quecas de passagem, insignificantes para irritar as mulheres que não gostam de ver os velhos a babarem-se em frente das raparigas. Podia-se escrever isto de outras várias maneiras. Porque os velhos também se babam em frente das mulheres velhas. Os velhos babam-se, pronto. Ninguém gosta de ver os velhos. “Ao sol e à morte não se pode olhar de frente” diz que disse o La Rochefoucault. E os velhos são o cabide da morte, vítimas da última exclusão, bons para lares, valium e hospitais de retaguarda.
O homem desta foto não se baba para a baronesa. A mulher de cabelo escuro não consegue olhar o sol, à sua direita. Ela sabe que o coração é um caçador solitário. Eram pessoas extraordinárias. Estão todos mortos.

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