Juízo Final
Jeff Wall
Eu hoje de manhã vi tantos mortos
que tive medo de ser o juízo final,
ter adormecido, ser já tarde,
terem soado as trombetas sem dar conta.
Vi os amigos que sofreram
no álcool e na estrada a morte violenta,
Vi o Mestre de quem tanto discordava
e foi como se ouvisse a sua voz.
Vi o senhor Serafim da mercearia,
a menina que falta no recreio.
Vi o meu pai numa varanda à espera.
Pensei que mais à frente iria dar
com uma barragem de anjos diligentes.
Já me acontecera assim um sonho:
sabemos o que nos vai acontecer,
antecipar o perigo, prever de onde vai surgir
o inimigo.
Parece uma vantagem.
Mas acabamos nas mesmas armadilhas.
Vou ser parado por anjos
que sabem que não temi a deus,
escrevi maus poemas em blogues,
e não as coisas sérias que devia.
Os anjos escreveram-me o curriculum mortae
Vão dar-me pasta, crachat, algumas senhas.
Etiquetas: Juízo Final, poesia lírica
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