25 setembro 2007

Ana de Amesterdão





Na blogosfera conhecida o meu blog preferido é o que leva a assinatura de Ana de Amesterdão.


Os que não gostam lá muito de mim, mas não me ignoram completamente, linkam este blog como Natureza do Mal. Se escrevessem A Natureza do Mal podiam dar-me um destaque imerecido, ao lado do Abrupto ou do Aalto, Alvar, sei lá. A Ana de Amesterdão linka-me sem o artigo e eu percebo que a irrito, que o que escrevo a irrita ainda mais do que a mim quando me leio. Como sou auto-centrado, quando ela escreve aquele desprezo sobre os gajos e as gajas dos blogs, exibicionistas de pilita murcha, de pernas abertas, sou tão bom, leio tanto, conheço tantos escultores, penso sempre que está a falar de mim. Vigio-me, quase não dou opiniões, não falo da maior parte dos livros que leio. Mas esta incomodidade colou-se à pele (murcha).
Gosto da escrita dela, do personagem que compõe. Uma mulher magra, pequenina, indiana, que vai para o emprego de manhã num comboio do Oriente, uma anaconda gigante, ( a CP, diz a Rosa, tem um grande potencial dramático), come na cantina, deseja a morte doce ao peixe do aquário da repartição, no café ouve as conversas da mesa do lado, escreve de noite e de madrugada enquanto os filhos dormem, toma ansiolíticos, concorre aos jogos florais do RCP com uma radionovela cujo título é Barcelona Red, sonha com ratos, baratas, armazéns, encontra no caminho gente fantástica, a gente da capital do quinto império, o visconde cortado ao meio, as mulheres a dias, tanta gente.



O blog da Ana não é maricas. A Ana não permite comentários, não tem sitemeter, não lê blogs da ralé. A Ana criou o blog para poder insultar a Mafalda Ivo Cruz. Mas é a única pessoa capaz de escrever um post assim:


Pedro
Finalmente tenho um Pedro na minha vida




E uma palavra: Urzeiral.
Pelo poder de um blog eu continuo a ler. É o blog de Ana de Amesterdão.

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