10 outubro 2007

Prepúcio


André Bonirre

No balneário o rapaz cruzou o olhar com o meu prepúcio. Como estava a entrar no duche tive este tempo todo para reflectir. A primeira impressão foi desagradável. Olhei o rapaz e no olhar dele, fugidio, oblíquo, vi o meu prepúcio. Esta triangulação irritou-me. Lembrei-me de Cavafys. Tive pena de não ter sentido o que Cavafys sentiu quando entrou na loja escura e o rapaz o atendeu furtivamente. Pensei simultaneamente no meu prepúcio e em como a minha recta orientação me limitava nas emoções, sobretudo no balneário masculino, ao entardecer. Depois, enquanto ensaboava a cabeça, percebi que não ia sentir nada de transcendente ao cruzar com a maior parte das ginastas de body jump, se a limitação de género não me impedisse a entrada no balneário feminino.
Apaziguado com esta auto-absolvição fiz a barba. Infelizmente a falta de creme de barbear não deixou durar muito esta beatitude.

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