Todas as noites acordo
Foto: Filipa Bonirre
Todas as noites acordo com ruídos nas estantes. Levanto-me, dirijo-me com mil cautelas ao lugar dos livros e, chegada ao cenário, já não me mexo. Observo-os acometendo-se de fim, lançando-se contra o chão, o vidro das janelas, as arestas dos móveis. Dantes, atirava-me também eu, quase sempre em câmara lenta, vivendo cada momento até à salvação. Cuidava em aperfeiçoar a minha própria queda, uma mão em leque, a inclinação da nuca, o deslizar do joelho direito. Agora observo-os. Aprendo a pouco e pouco a beleza dos movimentos que perdi por estar sempre a tentar salvar o que não pede para ser salvo, só visto.
// Gloria C.
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