Os vários sacos da Humilhação
Da Literatura é um excelente blogue, onde João Paulo Sousa e Eduardo Pitta, mais assíduo, assinam os melhores posts médios escritos em português sobre literatura. Isto não impede que se discorde quando, como ontem, a iniciativa dos intelectuais que criticam à cimeira UE-África não ter inscrito nos seus trabalhos as tragédias humanitárias do Darfur e do Zimbabwe é menorizada
Se Eduardo Pitta não tem nenhum instrumento que meça a dimensão da desgraça não devia ter dedicado um post curto a um reparo que pode ser correcto, mas é menor, no contexto da tomada de posição referida. Sempre houve quem intimidasse os intelectuais, quem não lhes desse um estatuto que fosse além de assinar os seus livros, quem não lhes concedesse outra credencial para lá de serem peritos de uma área do conhecimento. Como se a política dura fosse para os profissionais do maquiavelismo e aos intelectuais restasse a graça da inocência.
A utilização manipuladora dos intelectuais para a agenda política e o abaixo assinado automático a que se dedicam algumas famílias desacreditou o papel cívico dos intelectuais. Mas devem estar todos submetidos à ditadura da diplomacia? Devem as grandes e respeitadas vozes da cultura deixar o terreno permanentemente ocupado pelos pastores da consciência que semanalmente nos ordenham o mundo?
Outro aspecto em que a crítica de EP parece injusta é quando escreve que a fraqueza económica do Zimbabwe “ exonera a intelligentzia de uma prudente reserva diplomática”. Não estou a ver J. M. Coetzee, Wole Soyinka, Günter Grass, Nadine Gordimer, Dario Fo, Tom Stoppard, Colm Toibin, Jürgen Habermas a telefonarem aos secretários de estado dos seus países ou às federações patronais para perceber se uma posição é conveniente ou prejudica o bom ambiente dos negócios.
Finalmente. A pequena tragédia da perseguição aos cidadãos dos países africanos que descendem dos colonos brancos, ou com eles são identificados pela cor da pele ou pelo sotaque, é o tema de Disgrace, um entre outros dos livros de Coetzee. Coetzee é enorme e tem toda a autoridade para denunciar a diplomacia que, em nome do consenso, tem que ignorar a realidade e tratar do mesmo modo o vilão e o político normal.
Se Eduardo Pitta não tem nenhum instrumento que meça a dimensão da desgraça não devia ter dedicado um post curto a um reparo que pode ser correcto, mas é menor, no contexto da tomada de posição referida. Sempre houve quem intimidasse os intelectuais, quem não lhes desse um estatuto que fosse além de assinar os seus livros, quem não lhes concedesse outra credencial para lá de serem peritos de uma área do conhecimento. Como se a política dura fosse para os profissionais do maquiavelismo e aos intelectuais restasse a graça da inocência.
A utilização manipuladora dos intelectuais para a agenda política e o abaixo assinado automático a que se dedicam algumas famílias desacreditou o papel cívico dos intelectuais. Mas devem estar todos submetidos à ditadura da diplomacia? Devem as grandes e respeitadas vozes da cultura deixar o terreno permanentemente ocupado pelos pastores da consciência que semanalmente nos ordenham o mundo?
Outro aspecto em que a crítica de EP parece injusta é quando escreve que a fraqueza económica do Zimbabwe “ exonera a intelligentzia de uma prudente reserva diplomática”. Não estou a ver J. M. Coetzee, Wole Soyinka, Günter Grass, Nadine Gordimer, Dario Fo, Tom Stoppard, Colm Toibin, Jürgen Habermas a telefonarem aos secretários de estado dos seus países ou às federações patronais para perceber se uma posição é conveniente ou prejudica o bom ambiente dos negócios.
Finalmente. A pequena tragédia da perseguição aos cidadãos dos países africanos que descendem dos colonos brancos, ou com eles são identificados pela cor da pele ou pelo sotaque, é o tema de Disgrace, um entre outros dos livros de Coetzee. Coetzee é enorme e tem toda a autoridade para denunciar a diplomacia que, em nome do consenso, tem que ignorar a realidade e tratar do mesmo modo o vilão e o político normal.
Etiquetas: Eduardo Pitta, Encontro UE/África, polémica
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