Os livros de 2007 (que não li): Peter Sloterdijk
Depois de, na trilogia Esferas (Bolhas, espumas e Globos), Sloterdijk ter procedido a uma narrativa pessoal do mundo, para lá das grandes narrativas desmascaradas – cristã, liberal-progressista, hegeliana, marxista, fascista- este autor publica dois livros. Um em que aborda a Cólera como o motor principal da civilização ocidental. O outro é o excelente Palácio de Cristal, No interior do capitalismo planetário, onde resume a sua teoria do sistema mundo e, na sua fascinante linguagem hiperbólica, passa em revista a história dos tempos modernos e da constituição da esfera actual de conforto e “mimo”. Uma citação sobre a primeira mundialização para se perceber o poder das sínteses de Sloterdjik:
A história do mundo consistia em fazer emergir a Terra como vector das culturas e dos êxtases. A sua linha política era a unilateralidade triunfante das nações europeias em expansão; o seu estilo lógico é a concepção indiferente de todas as coisas sob o signo do espaço homogéneo, do tempo homogéneo e do valor homogéneo; o seu modo operatório é a condensação; o seu resultado económico é o sistema económico mundial; os seus fundamentos energéticos mantêm-se os combustíveis fósseis sempre superabundantes; as suas atitudes estéticas primárias são a expressão histérica dos sentimentos e o culto da explosão; o seu resultado psicosocial é a obrigação de se tornar cúmplice da miséria longínqua; a sua oportunidade vital é a possibilidade de efectuar uma comparação intercultural entre as fontes da felicidade e as estratégias de gestão do risco; a sua ponta moral é a passagem da ética de reconquista à ética do deixar-se-seduzir por aquilo que se conquistou; a sua tendência civilizadora exprime-se num complexo denso de descargas, seguranças e garantias de conforto; o seu desafio antropológico é a produção em massa de “últimos homens”; a sua consequência filosófica é a ocasião de ver a Terra una surgir nos inumeráveis cérebros..
Peter Sloterdijk
Le palais de cristal
Maren Sell Editeurs, 2006
Etiquetas: livros, Peter Sloterdijk
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