Terrível foi a noite do peixe
- O tempo está mau, mas não é motivo para sete cobertores na cama.Um exagero.
Embora também tu exageres. Um dos sete é afinal um edredão ligeiro e o outro o xaile imaterial em que te envolveste, naquela noite em que dançaste para mim, já nem te lembras.
- Com sete cobertores em cima, tinha de sonhar.
Um pesadelo atrás do outro.
– Sonhei com os deputados - disse a miúda. -Sonhei com a Assembleia da República.
Não achei nada de grave, nem que a obsessão anti-parlamentar fosse razão suficiente para ser acordado.
- É dos cobertores – insistes tu.
- É uma dor horrível - queixa-se a miúda.
Na sala já amanhece, e um dos peixes, o mais pequeno, o da mancha vermelha, o que vinha à tona de água mordiscar a comida, anda à deriva, para onde o leva a barriga - bóia.
– Já vi esta cena vezes de mais – dizes tu, especialista em mortes de peixes.
- Há demasiado peixe derramado pelo chão das greves de armadores – digo eu.
– Comeu-se demais na terra - dizia ela, ou o pai dela.
Etiquetas: F. Mora, Luíza Neto Jorge, peixes, pés
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