08 novembro 2008

À tarde as mulheres...



À tarde as mulheres no carreiro do rio, correndo, pedalando, passeando os filhos pela mão, correndo atrás do balão da sua respiração perfumada, onde está escrito: sou linda quando corro assim, mesmo se os joelhos desalinham, correndo com os homens das suas vidas, ou apenas com a canção que anuncia nos ouvidos o dia perfeito que há-de vir, as mulheres, o períneo das mulheres, par perfeito do selim, as coxas poderosas das mulheres erguendo-se no selim e depois as longas pernas até ao pé estendido no estribo, as mulheres empurrando os carrinhos onde as crianças levantam o tronco e confundem a face da mulher com o cenário do mundo, o suor das mulheres, os pés magoados das mulheres quando se sentam na margem do rio e soltam os cabelos e as blusas se colam aos ombros, os pé das mulheres batendo na terra vermelha, as rodas das bicicletas cavando sulcos no carreiro do rio, os filhos das mulheres adormecendo docemente enquanto caem as folhas do Outono no carreiro do rio e os dourados cães dos cegos fazem prodígios para correr do lado esquerdo das mulheres, das bicicletas das mulheres, dos carrinhos dos filhos das mulheres

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