10 dezembro 2008

À espera dos anarquistas



O Filipe, olhando para a Grécia, acha que é a velha tralha embrulhada em papel reciclado (e chama velha tralha à versão menos bruta do marxismo, a filosofia de Althusser, que, para quem não saiba, era um marxismo de luxo para burgessos com algumas preocupações teóricas).
Nem a obra de Louis Althusser é representativa da velha tralha, nem os manifestantes que incendeiam a Grécia são reconhecíveis utilizando os estereótipos do passado.
À sua maneira Rui Tavares, o mais simpático pensador da esquerda no espaço mediático, comete o mesmo erro na crónica de hoje do Público. Ele reflecte sobre o significado das recentes sondagens interrogando-se sobre os obscuros motivos que levam a esquerda a ser maioritária.
Quer o Filipe quer o Rui Tavares pensam o mundo à luz dos quadros de referência do século XX (desculpem a frase feita, mas parece ajustada). Rui Tavares ainda vê o PS como parte de uma mítica “ esquerda” que conserva alguma coerência, das Luzes à contemporaneidade, e socialmente se identifica com as classes desapossadas. E o Filipe sempre que vê as massas na rua julga que voltaram os bolchevistas.
Os velhos partidos parlamentares, do CDS ao Bloco, já não representam senão os funcionários, algumas famílias e as almas sem imaginação que fizeram, algures na vida, uma identificação clubística importante para a ilusão do eu-permanente. Têm algum interesse simbólico, como representação do sistema e simplificação social. Mas na hora da verdade, quando falta o dinheiro, quando a miragem da vida prometida descola da miséria da vida real, os velhos partidos não servem para nada. Indignamo-nos com o nosso empobrecimento e a vida opulenta dos fariseus do regime, de Loureiro a Coelho, de Júdice a Vitorino. Indignamo-nos com a prontidão com que cobram multas e impostos e a lentidão com que pagam vencimentos ou reconhecem os direitos que antes eram inalienáveis. Mas de que serve a indignação se não para outdoors decorativos como as árvores de Natal. Quando a pressão se torna intolerável os deserdados do regime saltam para a acção directa e encontram as suas formas organizativas. As organizações que representarão as multidões que o sistema em falha empurrou para a periferia, e em que elas se reconhecerão, ainda não existem. Anarquistas para o primeiro-ministro grego, a velha tralha para Filipe, estão em movimento. Entretanto, o lamentável Gama repreende os deputados faltosos, e esse Batista que o PS hoje alcandorou a porta voz parlamentar e é uma glória da camorra coimbrã, discute , como um contabilista, se é recessão ou não o que vivemos.
Nós jogamos xadrez.

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