01 fevereiro 2009

O cheiro




Grande parte dos comentadores do caso Freeport comenta baseado numa fé, numa crença, numa sensibilidade. Aquilo a que o preclaro Júdice chamou cheiro. Para os que não seguem o folhetim, Júdice, na sua página do Público, declarou que há 35 anos que cheirava e não lhe cheirava agora nada. (Esclareça-se que o olfacto não melhora com a idade e que após os 65 anos a maior parte dos seres humanos, sobretudo se fumaram e são homens, está quase anósmica.)
Os factos não interessam. Os factos repugnam às crenças. Se um jornal noticia a compra, por parte da mãe de Sócrates, de um apartamento numa empresa offshore- cuja única actividade em Portugal parece ter sido comprar esse apartamento e vendê-lo, mais barato, à mãe do PM- os crentes insurgem-se com a baixeza da informação, irrelevante para o apuramento dos factos, dado ter sucedido… antes do licenciamento do Freeport. Se uma assessora ouviu os empresários do Freeport falar de luvas para o PM, os crentes não suportam o cheiro da denúncia. Se o presunto corruptor activo vem a público declarar que nunca deu dinheiro a Sócrates, os fiéis rejubilam, e acham que assim, ficam categoricamente desmentidas as suspeitas (Vital Moreira).
Os ânimos devem estar ao rubro no Partido Socialista, que encontrou, na cabala, uma causa, um cimento. Unamo-nos em torno do nosso líder- declarou já um ideólogo. O Congresso decorrerá em fervor socialista, com os prosélitos unidos pela fé e pela esperança de um lugar na Europa, no Parlamento, numa vereação ou numa junta.
Entretanto outros bloggers atacam o MP, o PGR, o jornalismo de sarjeta. Ajustam-se contas. Algumas virgens mostram preocupação com a honorabilidade geral dos políticos que identificam com o sistema democrático. Com a liberdade de imprensa ninguém parece preocupar-se.
Os que perderam o cheiro tomam por reais as suas memórias olfactivas. Felizmente para eles, não lhes cheira mal.

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