15 fevereiro 2009

O Leitor



Como diz o Eduardo Pitta O Leitor é um pastelão.
Mas os filmes em processo aclamatório- que felizmente têm enchido as salas de trituração das pipocas – são todos assim. Pastelões. Benjamin Button arrasta-se quase insuportavelmente em postais cor-de-rosa e comete o crime sem perdão de fazer envelhecer (mal) Cate Blanchett enquanto o rapaz Pitt, como uma criatura de Blake , se torna cada vez mais um jovem que sangra. Revolutionary Road, o melhor desta fornada, tem um momento de deriva que quebra o rigor da narrativa (diz a Rosa). Visto a seguir ao último Allen, Revolutionary Road tem a vantagem de nos mostrar, face à lição de Actor’s Studio de Kate Winslet, a pequenez histriónica de Penélope Cruz.
O último dos pastelões em curso (falta-me A Dúvida) é este O Leitor. Não vou falar dessa banalidade que é a fidelidade do filme de Stephen Daldry ao livro. O livro de Bernard Schlink é um poço de sensações, uma viagem por um tempo – o pós-guerra , e um território- o ocidente da Alemanha em reconstrução. E também por temas de sempre: a sexualidade juvenil perturbada pelo convívio geracional, a culpa, o castigo. E dentro da enormidade da culpa, a insinuação de uma vergonha maior, que escorre pelo livro e é, no início, a culpa do rapaz por ter elidido Hanna Schmitt, a mulher mais velha, primeiro junto da família e depois, num momento capital. Nesse momento, que por razões inexplicáveis o filme não mostra, Hanna surge sem ser esperada na piscina fluvial e o rapaz, questionado pelo grupo de amigos, finge não a conhecer. Ele julgará que foi a sua cobardia que motivou o desaparecimento de Hanna e o espectador de O Leitor fica sem chaves para a culpa que Michael Berg arrasta consigo até reencontrar Hanna Shmitt na barra do Tribunal. O outro grande tema, o tema surpreendente do livro, que à época em que o li me pareceu plausível resulta, do meu ponto de vista, completamente artificial.
O Leitor falha ainda, quanto a mim, em várias questões essenciais. O filme é redondo, previsível, moral, tenta explicar-se. A música é rapidamente insuportável, delicodoce, apelando aos nossos mais desprezíveis reflexos de espectador. As cenas de leitura são de gosto duvidoso. Talvez Hanna e o rapaz leitor gostassem de livros. Stephen Daldry não gosta.
Nenhuma das insuficiências do filme está relacionada com Kate Winslet, sempre magnífica como julgamos que são as mulheres de grandes aréolas, embora mal caracterizada nas cenas finais. O rapaz alemão, de nome David Kross, é excelente. Ralph Fiennes está demasiadamente atormentado. Bruno Ganz não devia fazer destes fretes. Lena Olin no papel da sobrevivente judia em Nova Iorque faz a ligação a outro pastelão insuportávelmente leve com o qual o cinema tentou vulgarizar a literatura.

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