Simplex Jamé
Annika von Hausswolff
Em época de eleições a blogosfera é animada pelo confronto. É saudável que as pessoas se juntem pelas suas afinidades. Na minha limitada pesquisa descubro dois carros de combate no deserto. Jamé e Simplex - já que Jugular, por exemplo, tem já uma vida longa e uma ligação menos eleitoralista à bondade de quem nos governa. Em ambos há pessoas estimáveis e algumas que , sem conhecer, respeito intelectualmente. Mas viajar, no deserto, num carro de combate, enlouquece. É o sol abrasador, a poeira que as lagartas sempre levantam, as tempestades de areia que não deixam ver o inimigo, as rações de combate, a táctica e a estratégia dos generais. E, pior de tudo, o suor do condutor, as opiniões do primeiro atirador, a boçalidade do cabo. Os carros de combate movem-se com uma lógica própria. As acções dos ocupantes implicam todos. Os incautos das Beiras que foram arregimentados por “boas razões” em breve perderam a veleidade de assomar à escotilha para sussurrar a sua ligeira heterodoxia, a sua individualidade. O carro de combate avança, triturador, esmaga o inimigo e homogeneíza os conteúdos. No carro de combate, o ocupante é um auto-colante na carroçaria, uma frase gravada no início das hostilidades, a que o tempo retirou sentido e fundiu na mesma cor baça.
E pior do que o pior de tudo. Oh ocupantes do Simplex e do Jamé. Não há batalha. Este texto pode dar-vos alguma razão de existência. Mas o deserto que alguns de vocês criaram e onde agora nos atolamos, não tem o cheiro das discussões programáticas. É feito de pequenas coisas prosaicas que agora ignorais: a mala do Preto, as acções do Loureiro que davam um jeitão, as habilidades dos tribunais, das polícias de investigação, das direcções dos jornais, dos gabinetes de imagem, os negócios à saída dos governos, do parlamento, o sistema bancário, as tias à espreita, essa legião de mulheres em madeixas que vive às janelas dos ministérios. Simplex, Jamé, estais destinados ao entendimento. É o interesse nacional que o reclama. O interesse nacional vê-se bem no caminho que vai do governo às empresas, das empresas ao governo. Dispam o fato-macaco e confraternizem.
Etiquetas: Falta o pior do pior que pior que tudo
6 Comentários:
sempre na mouche
Tu queres é sangue. Estás mesmo a pedi-las.
direi mesmo mais, sempre na mouche
E tem razão. Ninguém pode viver assim por muito tempo.
«Destinados ao entendimento» - nem mais.
Aquilo é mais guerra de guerrilha do que convencional, e onde cada contendor tenta salvar o pelo. Quando se fizer o espólio é que entram as malas do Preto as acções do Loureiro e outras mais valias.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial