A adopção por casais homossexuais: uma fronteira do pensamento conservador
Terry Richardson
Ninguém tem direito a adoptar crianças. Estas é que têm direito a ser adoptadas. Têm direito a um pai e uma mãe que substituam os seus pais biológicos e não a uma família em que um homem desempenhe a função da mãe ou uma mulher o papel do pai. Só pessoas de sexo diferente podem gerar filhos. Foi assim que a natureza estabeleceu a reprodução. Por isso, o Homem não deve tentar alterar aquilo que a natureza organizou.
António Marinho Pinto, Jornal de Notícias
O autor destas linhas é um personagem controverso. Pensa muito e diz o que pensa. Suscita por isso demasiadas emoções. Considerando que a maior parte dos intervenientes no ruído público pensa pouco e diz o que convém ao seu grupo de pressão, a existência de pessoas com as características de António Marinho é um factor de saúde mental. O modo como o conheci devia-me inibir de escrever o que quer que fosse sobre ele, mas não sobre as suas opiniões.
Desta vez acho que lhe devo uma informação simples e breve: a história do Homem - assim com maiúscula - é a história de como se altera aquilo que a natureza organizou. Alguns exemplos: o controlo das doenças- desde a luta contra microorganismos até às terapêuticas génicas, a agricultura, a construção de barragens, a domesticação de outros animais, o direito, enfim.
Etiquetas: adopção gay
9 Comentários:
Esta é a força maior do preconceito: a de acreditarmos em algo mesmo sabendo que não existe nenhuma razão lógica para o fazermos - pois eu não acredito que o Senhor Marinho Pinto acha, de facto, que uma criança está melhor institucionalizada do que ao cargo de dois homens ou duas mulheres!
luís, concordo em geral consigo mas gostaria de citar o Sagan: somos filhos das estrelas. Não sei se o afastamento da natureza (e não falo de barragens nem de antibióticos) nos está a conduzir a bom porto. A coisa é complicada, e também porque não nos podemos esquecer das barragens e dos antibióticos.
Já quanto à adopção, e falo por mim, se alguém podia ficar responsável pela filha mais nova e tratá-la certamente como uma princesa seria um casal de amigos gay. E ela concorda. Claro que enquanto escrevo isto já bati na madeira 3 vezes, para que tal não venha a ser necessário. Por mim, naturalmente.
plenamente de acordo!
curioso, vindo de alguém que gosta de alterar (ou pelo menos falar do assunto) tudo aquilo que acha que está mal, independentemente da sua natureza...
wcpato, no que o Luís destacou não vejo em lado algum que o Marinho Pinto tenha dito que acha que uma criança está melhor institucionalizada do que a cargo de dois homens ou de duas mulheres. Do que ele diz só posso inferir que ele acha que uma criança deve ser adoptada por um casal heterosexual. Isso é a opinião dele e, deixemo-nos de coisas, que esse continuará a ser o cenário mais previsível (dizer que a adopção por casais homosexuais vai resolver o problema das crianças institucionalizadas é ridículo - pela abrangência). Mas o que o Marinho Pinto diz de verdadeiramente importante está 1ª frase que o Luís destacou e que, infelizmente, muitos teimam em esquecer.
"A natureza estabeleceu" que um homem e uma mulher se conheciam ele ia à vida e ela inchava, paria com dor e ficava a dar as mamas até a cria ter dentes e a história se repetir. O argumento de que é assim"porque a natureza assim o estabeleceu" é perigoso. Quem fala em nome da natureza perde a razão (provérbio de Rohmer)
"Amigo" Luís (permita-me a confiança)...nada a obstar ao post e ao texto.
No entanto a fotografia...o Batman não é homossexual pelamordedeus, já o tipo do "S" kryptoniano desconfio.
Liberdade liberdade mas sem rotular-se o errado.
Abraço
Uma fronteira que cairá como todas as outras.
Para mim é adquirido que o que importa é a qualidade das pessoas, não a especificação exaustiva das características psico-afectivo-sexuais dessas pessoas: se são caucasianos, ou mongóis, ou sefarditas, se são budistas, ou cristãos, ou muçulmanos, se são grandes, ou pequenos ou medianos, se têm estudos primários, secundários ou “terciários”, se são homens ou mulheres.
Eu, em abstracto, também “acho” que um pai-homem e uma mãe-mulher seria o ideal.
Mas o que é o “ideal” num mundo como o nosso? É querer viver, para não ir muito longe, como se vivia em 1950?
O que importa é, repito, a qualidade das pessoas.
Luís, partilho a tua visão e acredito que o António Marinho Pinto, se pensar um bocadinho melhor sobre a questão, também. Não creio que ele queira voltar a 1950. Em 1950 ele já estava preso. Ou morto. Aquilo é o pai, ou o avô dele a falar, não ligues, que isto em certas coisas evolui mas devagar.
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