Adriana Varejão
Agora é assim todos os dias: a empresa despediu 200 trabalhadores. Souberam à hora do almoço. Souberam pela televisão. Em directo. Tinham 20 anos de casa. De casa. Estavam convencidos de que a empresa era a sua casa. Que tinham de vestir a camisola. Hoje foram despedidos. Nos bons casos aparece um senhor escrupulosamente barbeado, com um fato confortável e gravata clara, a explicar aos jornalistas que a empresa estava perfeitamente sobredimensionada. Que estes trabalhadores há muito eram excedentários. A gente vê a cara deles na televisão. A cara que tem um homem e uma mulher excedentária. A mulher excedentária chora. O homem ainda não percebeu. Neste momento ainda estão juntos. Fizeram cartazes que para eles têm muito significado. Amanhã estará cada um para o seu lado, novos-velhos no mercado do Senhor Silva, shiuuu.
Podia não ser assim. Podíamos perceber que o senhor do fato e os amigos, tão bons a despedir, a cumprir a decisão final de despedimento são ,eles sim, perfeitamente excedentários. Já eram assim nos tempos da empresa Puro Prazer de te F., criada enquanto jovens estudantes de Economia para gerir as verbas da cervejola da Comissão Queima das Fitas. Excedentária, essa gente dos Conselhos gerais, das Administrações, dos Projectos, dos Gabinetes, das Comissões, das Assessorias. Perfeitamente excedentários, sobredimensionados. Homens e mulheres como nós, não lhes desejo o mal. Apenas que sejam despedidos por justa causa. Com um subsídio de desemprego ( e não dois, e não vitalícios). Para poderem ir, de cara lavada e CV na pasta, ao mercado do Senhor Silva, shiuuu, tentar a sorte, como este homem e esta mulher que choram.
8 Comentários:
Entenderam que era preciso contratar uma cigarra para gerir o trabalho da formiga.
No dia em que já havia 3 cigarras para cada formiga, entenderam que o orçamento não dava para tudo e despediram a formiga.
O que virá a seguir?
um destes dias, será a nossa vez. a não ser que um MBAzito em gestão, ou uma inscrição no partido nos salvem.
perfeitamente execráveis, esses excedentários.
Luís, qeria dizer algo acerca da comoção e da raiva que se misturam nesta leitura da realidade
mas não sei
obrigada
Luís, atirei um dardo para aqui. Espero que já tenha chegado.
Abraço
Grande texto, Luís!
esta gente perdeu a pouca vergonha quer tinha, e depois abanam os ombros, como se não tivessem nada a ver com o assunto, como se a empresa não pertencesse à TAP, não fosse pública...
Luís, mas ninguém está livre (excepção para os grandes tubarões) de ser excedentário, a vez dos economistas da queima das feitas também chega, e não ficam, na maioria dos casos, em melhores lençóis. o excedentarismo é como a morte bastante democrático.
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