23 fevereiro 2011



Detesto Khadaffi, o exibicionismo, o tom de voz metálico, a crueldade dos lábios. Quando Khadaffi cair não sentirei nada. Nem alegria nem tristeza. O mundo não será melhor nem pior.
O ditador líbio esteve em Lisboa, junto ao Tejo acampado, com uma guarda feminina. Não me lembro de nenhuma manifestação de repúdio. Os portugueses sempre conviveram bem com os resorts da Tunísia e as passeatas do Nilo. Que a Tunísia e o Egipto eram horrendas ditaduras e os povos aspiravam à liberdade era coisa que, pelos vistos, todos sabiam mas não diziam. Acontece-me muito isto, ultimamente. Dar subitamente conta de que as coisas mudaram mas ninguém se espanta.
As multidões árabes estão a varrer os líderes. Arredado das televisões não tenho visto muitas imagens nem percebo bem o que as imagens mostram. Quem dispara contra quem? Quem mata e quem morre? Quem filma? Quem edita?
Uma jornalista foi violada na Praça da liberdade dos egípcios. Os prédios são saqueados. Os ministros de Kaddaffi tiveram uma epifania e juntaram-se aos revoltosos. Os estrangeiros chegam assustados.
Aqui os jovens convocam uma manifestação para 14 de Março. Os jovens são como o Bloco. Querem derrubar o Governo, mas é só daqui a um mês. Querem um mundo novo, mas é daqui a três fins-de-semana.
Um sinal diferente: uma foto de mulheres no Bahrein e um rosto que se levanta. Mas o que pensam elas? O que sabem estas mulheres do mal do mundo? Nenhuma inocência triunfará.

5 Comentários:

Blogger anauel disse...

Por isso é tão fascinante, tão brilhante, tão avassalador, Luís. Precisamente porque não sabemos de nada, não percebemos nada, não reconhecemos nada, estamos-nos verdadeiramente nas tintas, e contudo, ainda assim, o mundo gira, revoluciona. No fundo, o mundo precisa pouco de nós... E, nas frinchas, nos momentos raros em que o barulho se desvanece (os sons desvanecem-se?) conseguimos sentir (vá, admita-o) a força, a energia, das massas em procura de algo. A procura é mágica!

quinta-feira, fevereiro 24, 2011  
Blogger joshua disse...

Acho que o mistério da liberdade é o mistério da fome.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011  
Blogger hugo besteiro disse...

bom texto

sexta-feira, fevereiro 25, 2011  
Anonymous Anónimo disse...

Tendo vivido quase um ano no Cairo, posso adiantar que a juventude quer uma vida melhor e um estado menos corrupto. Para se perceber o que lá se vai passando e o que pensam sempre pode ler o al-ahram.

segunda-feira, fevereiro 28, 2011  
Blogger good churrasco ó auto de café.... disse...

Detesto...se se detesta não se é indiferente

eu cá sempre gostei de ditadores excêntricos Mao com um livrinho rosso
Kadhafi com um verde
tronos à Jean BEdel Bokassa

Pirâmides à kéops
são os ditadores loucos que dão sal ao mundo

as ditaduras burocratas matam mais insonsamente

claro o zé eduardo dos santos
é melhorzito nos massacres

o problema é que não há personificações do mal

como dizia o velho Stein

apenas gente que pensa que as vê

terça-feira, março 01, 2011  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial