Pacheco, Marcelo e as Teses de Março/Abril
Gillian Wearing
O artigo mais importante do fim-de-semana pareceu-me ser o de Pacheco Pereira no Público , indisponível aqui, mas que começa assim: “Muitos no PSD acham que as portas dos ministérios estão escancaradas e não percebem por que não se entra já por aí dentro…” Pacheco explica aos impacientes que, depois de Sócrates, as condições se manterão inalteráveis: a dívida e os juros da dívida, a desconfiança dos mercados, o sistema bancário, e, como diria o PC, a combatividade dos trabalhadores… Por isso, para Pacheco, a solução seria um governo de União Nacional que englobasse o PS e mantivesse a esquerda na ordem.
À noite, na TVI, Marcelo disse o mesmo por outras palavras, tratando-nos a todos como apoiantes ou militantes do PSD e aconselhando-nos a calma.
Estes discursos para o interior do PSD, para o militante mítico e exaltado de Aguiar da Beira, teriam, aparentemente, mais sentido no Povo Livre. A menos que, estudiosos da comunicação de massas, estes dois engenheiros de almas não sejam inocentes. Tratados desta maneira, cúmplices com esta escrita e esta presença tutelar dos serões de domingo, alguma coisa em nós se começa a identificar com estes amigos que pensam. Um eu subconsciente descola de nós e começa a vestir a camisola laranja-azul-rosa desmaiado. Se o nosso clube não comparece, alguma camisola haveremos de ter.
E se a ideia principal, de Pacheco a Marcelo, não for a que se enuncia como tal: qual a hora certa para tomar o poder? Se a mensagem for afinal: o inimigo é a esquerda. A esquerda "radical" que não apenas se exclui desta solução, como de todas as soluções. Se o sistema económico é sagrado e a vida impensável fora dele, não viveríamos melhor, desobrigados de aturar os seus detractores? Há qualquer coisa, no texto de Pacheco, que remete para a solução final. Um país sem esperança e do qual tivessem apagado a própria ideia de esperança.
Etiquetas: Pacheco Pereira
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