08 maio 2011

Feira do Livro (3)


André Bonirre

O ar desolado de um escritor ignorado, digamos David Justino, aguardando que lhe peçam a assinatura num livro, só tem paralelo com o ar desolado com que António Lobo Antunes recebe os admiradores atravessados no recinto da Leya. Passa-se, com estes presuntos leitores, um fenómeno interessante: no fim da fila, eles empunham o livro com orgulho, junto ao coração, como se o pudessem erguer a qualquer momento. O rosto tem aquele brilho dos excursionistas portugueses ao Vaticano, ao serem entrevistados por Áurea de Sousa, nos preliminares da beatificação de Woytila. Depois, à medida que progridem na fila, e já no perímetro em que é possível avistar o Autor, a confusa melancolia do olhar dele atinge-os. Deixam cair os braços, o livro tornou-se uma coisa incómoda e fazem os metros finais com os olhos dos bois nos matadouros.

3 Comentários:

Blogger maria disse...

belíssima série! ;)

domingo, maio 08, 2011  
Blogger Samuel Filipe disse...

Sem dúvida belíssima série, mitiga um pouco as saudades que tenho da feira do livro de Lisboa. Gostei da utilização equívoca que fez em presuntos leitores. Um espanholismo divertido que cai que nem uma luva na fila para os autógrafos.

domingo, maio 08, 2011  
Blogger FPM disse...

Áura Miguel
:)
Fiquei com vontade de ir à feira de lisboa.

quinta-feira, maio 19, 2011  

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