Um dia que fosse nosso
Não há, na verdade, nenhum dia novo. Um dia que fosse nosso. É dia da mãe. E ainda por cima primeiro de Maio. E dia da ascensão de Wojtila, com Bagão a homiliar na Antena 1, Bagão , o nosso comentador, o beato-a-ser . Mesmo quando fala de temas benignos Bagão parece ameaçar. Neste caso com a fogueira. Reclama-se do Catolicismo. Isto na Antena 1, à hora do almoço, no primeiro domingo de Maio, tem um peso tremendo. Bagão, na ressaca da beatificação, casalinho real já em sossego, comentando o Santos subitissimo de Wojtila à luz implícita da sua vitória arrasadora. Venceu as ideologias más do século XIX . Foi , se acreditarmos na Wikipedia, “director financeiro da Companhia de Seguros A Mundial (1973-1976)- aos 25 anos, membro do Conselho de Gestão da COSEC (1976-1979), membro do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Seguros (1979-1980), administrador do Banco de Comércio e Indústria (1985-1987), administrador (1992-1993) e vice-governador (1993-1994) do Banco de Portugal e director-geral do Banco Comercial Português (1994-2002). Também no BCP foi administrador de várias seguradoras do Grupo, designadamente a Bonança, Império, Médis e Ocidental (1994-2000). Foi designado presidente do Conselho Directivo do Centro de Informação, Mediação, Provedoria e Arbitragem de Seguros (2010). É professor catedrático convidado da Universidade Lusíada de Lisboa (desde 2006), onde rege as disciplinas de Finanças Públicas e Ética. Anteriormente foi assistente do ISCEF (1972-1973), do ISCTE (1975-1976) e professor auxiliar convidado da Universidade Internacional “. Senhor de largo currículo, exerceu seis vezes funções governamentais – e ainda a procissão vai no adro.
É um dos inocentes que, apesar de ter estado no centro da decisão, pelo lado do Estado e da Sociedade, está aí de mãos limpas para o governo de salvação, se lhe for pedido o sacrifício, ou para administrador de um banco santificado. E hoje lá o ouvi, incauto, mas fascinado pelo milagre de reencontrar os padres salazaristas da minha infância, que quando falavam de paz pareciam proclamar a Guerra e quando diziam Paraíso se ouvia Clube de Golfe e Sport, admissão reservada.
Mas não estou aqui para falar do Bagão Félix. Que alias respeito. Como não respeitar um professor catedrático convidado da Universidade Lusíada, esse símbolo do ensino privado de qualidade. Do director-geral do BCP, o banco que Deus ungiu para enriquecimento espiritual de depositantes e accionistas?
Recomeço então.
Não há, na verdade, um dia que seja nosso. Já nem o Google nos deixa acreditar ser hoje o dia primeiro do mês de Maio, melhor, o dia Um de Maio, um dia só cardinal. O Google, alias, mostrou o que era. Quando teve que escolher entre Mães e as trabalhadoras e os trabalhadores escolheu as Mães. Podia ter escolhido as mães trabalhadoras, todas as mães afinal. Mas não. Google da submissão, só flores e passarinhos, Google do nosso tempo resignado, só podia ser assim e assim foi.
Assim não será. As virgens da jsd que, em Coimbra, são detentoras do outdoor dos Arcos do Jardim, colaram estratégicamente um cartaz negro que anuncia os tempos messiânicos. O cartaz está virado para a rua onde, dentro de dias, descerá o cortejo dos doutores . Entre o Magnífico Reitor e o Wojtila quando jovem Papa, as legiões de alcoolizados hão-de ler a mensagem prometendo que o país sairá em breve da noite escura em que o deixaram.Assinado: jsd, com três pontos de fixação, altas, duras e apontando o infinito.
Domingo. Vamos passear. Com as crianças, junto ao rio. Ver a chuva a cair, uma bola que vai com a corrente, os milhafres a voar baixo, junto aos patos.
5 Comentários:
Na Alemanha também chove e o 1º de Maio é mais animado, queimam umas coisas atiram projécteis aos políticos aqui atiram palavras
é sinto má ti ku
gostei mt deste texto! Cáustico, irónico, "farpico". Lembrei-me logo do queridíssimo Eça. Obrigada pela partilha.
Abraço :)
Bagão Félix rege a disciplina de Ética? Realmente, não há salvação.
Se duvidas tinha,elas ficaram dissipadas com este bom texto.
Um grande blogue.Aqui está com "imagens escritas",um modo "simples", de galopar nas palavras...
Obrigado.
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