07 agosto 2011

Estrelas para Angèle e Tony


foto de André Bonirre








O cenário é a Bretanha, uma das regiões da Europa onde talvez seja ainda possível alguma coisa parecida com isto acontecer. Uma mulher volta para estar perto do filho que perdeu. Mais um caso da Segurança Social. Os casos da Segurança Social chateiam os críticos de cinema. Os críticos de cinema (o plural é excessivo. Falo de Francisco Ferreira, com coluna no Expresso , um troglodita que despachou com uma bola preta o filme de estreia de Alix Delaporte, Angèle e Toni com Clotilde Hesme, a Elisa de Monfort de Mistérios de Lisboa, a Lilie de Amantes Regulares. E , nos papéis secundários, outro motivo de rejubilação, a almodovoriana Lola Duenas.
Naquele sítio há homens que pescam para vender o peixe e disso viver: pescadores. Um deles, Toni, responde a um anúncio da mulher. Ela procura marido como estragema para adiar a entrega definitiva da custódia do filho. As palavras-chave são então: Liberdade condicional, emprego precário e desqualificado, casamento por anúncio, prostituição, proteção de menores à mistura com solhas e linguados, greves e confrontos com a polícia. Há quem não goste destes temas e prefira a história da Gata Borralheira e do Peter Pan. Têm todo o direito. E também, claro, direito a condicionar as opções do público residual das salas de cinema. Mas deviam, à maneira de declaração de interesses, editar uma folha do tipo "informações " do Facebook. Era mais honesto e já sabíamos ao que vinham - e nós ao que íamos .
O cinema de Delaporte é um cinema de despojamento, sem efeitos especiais, sem cenário. Outro estrelista do Expresso gabou o cenário do filme quando, uma das características do filme é ter como cenário a paisagem moral das personagens, muitas vezes silenciosas ou de poucas palavras. O cenário natural da Bretanha, mar e terra, e o cenário social são mostrados quase pudicamente, de forma não icónica nem demonstrativa.
E depois o filme é um filme com motas e bicicleta, como se dizia, de Jane Eyre, que era um livro "com paixão e um incêndio ".
Para os que não sabem para que serve a bicicleta aí têm Angèle. Nas primeiras cenas parece mal saber equilibrar-se, o trajeto é irregular, sempre à beira do desequilíbrio . Depois, uma cena capital mostra-a em grande plano, desfeada pelo esforço e pela câmara , avançando a custo, soerguida na máquina, cada pedalada contada por uma expiração prolongada.
Estes temas, esta linguagem, estão para lá da literacia de FF.
Há ainda quem leia.Tem de haver.



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3 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Luís.
Proteção lembra-me tropeção
(mas leio cada vez menos, é um fato).

segunda-feira, agosto 08, 2011  
Blogger Luís disse...

É isso mesmo Maria. lá dizia o outro: no tempo dos antigos houveram pessoas que sabiam usar o verbo haver.

segunda-feira, agosto 08, 2011  
Blogger Luís disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

segunda-feira, agosto 08, 2011  

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