25 abril 2007

Este foi o dia


Chagall

Acordaste-me, cedinho, para a notícia. Ainda ouço a chave na porta, a tua voz. Ainda vejo o teu casaco azul. Saímos para a rua. O dia estava parado. À espera. Na faculdade, aproveitámos para suspender as aulas. Fomos para a Praça, à procura de notícias. A rádio passava música sinfónica. Qualquer pessoa com mais de dezoito anos percebia que era música fascista. E que os fascistas estavam aflitos. Só mais tarde soubemos que o Emissor Regional cumpria ordens de um governador civil fiel ao governo. A meio da manhã o meu pai telefonou, garantindo que em Lisboa as ruas estavam cheias de gente vitoriando os militares que derrubavam o regime. O meu pai esperara tanto por esse dia que pensámos que ele exagerava, como era costume. Depois não me lembro de mais nada. Achei sempre que havia gente de mais nas ruas. Alegria em excesso. Uma esperança impossível de realizar.

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